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sexta-feira, 3 de janeiro de 2020

Viação Cometa

A Viação Cometa S.A. é uma empresa de transporte rodoviário de passageiros que atende parte das regiões Sul e Sudeste do Brasil desde 1948. Suspeito que o inusitado nome tenha sido inspirado pelo "Grande Cometa do Sul" (C/1947 X1), um objeto facilmente visível a olho nu em dezembro de 1947.

Utilizei recentemente os serviços da empresa e algo me chamou a atenção: o nome de uma das classes de ônibus é "Halley". Apesar da referência ao cometa mais famoso da história da astronomia, a imagem estampada no veículo é, na verdade, do cometa Hale-Bopp — muito mais brilhante em 1997 do que o cometa Halley foi em sua aparição de 1986.

A fotografia do Hale-Bopp utilizada no ônibus foi provavelmente registrada por E. Kolmhofer e H. Raab em 4 de abril de 1997, no Observatório Johannes Kepler, em Linz, Áustria.

Compreendo perfeitamente a razão pela qual dois cometas diferentes aparecem associados a um mesmo ônibus. Embora milhões de pessoas tenham visto o cometa Hale-Bopp, em 1997, seu nome não se fixou no imaginário popular como ocorreu com o cometa Halley. O brilho não basta: a memória coletiva precisa de um nome que já tenha história.


Ônibus da Viação Cometa. Imagem obtida em
02-01-2020, na rodoviária de Araraquara (São Paulo).

domingo, 29 de setembro de 2019

BVR broadband photometry of comets 1P/Halley and 4P/Faye

Na última segunda-feira, 23 de setembro de 2019, o artigo "BVR broadband photometry of comets 1P/Halley and 4P/Faye" foi aceito para publicação na revista "New Astronomy". Este trabalho é o resultado de uma parceria bem-sucedida entre mim e Orahcio Felício de Sousa, ambos professores da UFRB. Fiquei extremamente feliz com esta publicação, pois tive a oportunidade de contribuir com o estudo de dois cometas importantes para a história da astronomia.

Edmund Halley previu, em 1705, que o cometa 1P retornaria ao sistema solar interior com décadas de antecedência. O cometa Faye foi o primeiro a ser observado pelo Hubble Space Telescope, numa passagem próxima da Terra (0,6 ua) em 1991.

Neste trabalho, nós pudemos correlacionar observações visuais e fotométricas do cometa Halley feitas por observadores brasileiros e estrangeiros, algo surpreendentemente inédito na literatura, apesar do volume de dados coletados pelo PBOCH (Programa Brasileiro de Observação do Cometa Halley).

O resumo melhorado do trabalho é apresentado a seguir:


"We have analyzed the visible broadband photometry data of comets 1P/Halley and 4P/Faye obtained during their perihelion transits in 1986 and 1991, respectively, at the Sanglokh Observatory (Tajikistan) and the European Southern Observatory (Chile). Application of the Lomb-Scargle periodogram to the magnitudes in the V-band and the B-V color index shows that the most probable periodicities are 79 ± 6 and 7.36 ± 0.04 days for 1P and 6.1 ± 0.3 days for 4P, respectively. After comparing the results of color and magnitude periodograms, we find that there is a systematic difference in the number of identified signals and the confidence level of the same periodicity in the periodograms. Our results suggest that searches for periodicities in the color of the coma of active comets should be complementary to those in magnitudes. We have demonstrated that the distribution of the B-V color of Faye's coma was invariant during and after the possible occurrence of a post-perihelion outburst. We have demonstrated a symmetry in the H0 photoelectric absolute magnitude of comet Halley before and after perihelion. The same symmetry were not observed in the B-V color index. We find that the absolute magnitude H0 of comet Halley differs from each other when calculated from the visual or photoelectric magnitudes, which is due to the section of the coma used to estimate these magnitudes. We have also found that this difference in photometric aperture can affect the comparison of B-V color distributions between active comets."


Curvas de luz rotacionais dos cometas Halley e Faye apresentadas neste artigo.
 A fase 0.33 corresponde a um outburst no cometa Halley.

domingo, 6 de maio de 2018

Por que o cometa Halley "micou" em 1986 ? - Parte 2

Comparação das dimensões angulares do cometa 1P/Halley em momentos próximos de suas máximas aproximações à Terra, ocorridas em 1910 e 1986.

A emulsão fotográfica utilizada por E. E. Barnard em 1910 era certamente muito menos sensível do que os detectores empregados nas imagens de 1986, o que possivelmente justifica o uso de um tempo de exposição mais longo e de um instrumento com maior abertura (Fig. 1). No entanto, com base nas dimensões angulares estimadas, é evidente que o cometa Halley não era um objeto facilmente discernível a olho nu em céus urbanos durante abril de 1986. Embora visível em locais com pouca poluição luminosa, sua aparência era discreta, com uma coma de brilho difuso e dimensões angulares semelhantes às do aglomerado globular NGC 5139, conhecido como Ômega Centauri, na constelação do Centauro (Fig. 2). Enquanto Ômega Centauri apresenta um diâmetro angular de cerca de 36 a 55 minutos de arco, a coma do Halley em 1986 geralmente não excedia 20 a 30 minutos de arco, com brilho superficial bem mais baixo.


Fig. 1 -Fotografia obtida em 29 de Maio de 1910 às 15:11 (ou 15:28!) UT por E.E. Barnard no Observatório de Yerkes (EUA), usando o telescópio "Bruce" de 0,25-m de abertura, e publicada originalmente no jornal New York Times. O campo de visão é  7,44 x 5,63 graus e a escala de placa é de 33,8 arcsec/pixel. O aspecto trilhado das estrelas de campo é causado pelo tentativa de acompanhar o movimento próprio do cometa no céu. O comprimento da cauda do cometa é de cerca de 5,4 graus.

Campo de visão no céu da foto anterior. Imagem gerada pelo
programa online astrometry.net


Fig.2 - Detalhe de uma foto obtida pelo astrônomo amador brasileiro
Nelson Falsarella, em São José do Rio Preto (São Paulo), no dia 11 de Abril de 1986 às 05:50 UT. O filme utilizado foi Kodacolor VR de 400 ASA e 210 s de exposição, usando câmeras Pentax K1000 ou Zenit 12XP e, presumivelmente, lentes normais. O campo de visão é de 7,33 x 6,81 graus e a escala
de placa é de 117 arcsec/pixel.  A coma apresentava 0,5 graus de diâmetro, igual a dimensão angular da Lua.

Campo de visão no céu da foto anterior. Imagem gerada pelo
programa online astrometry.net

quinta-feira, 3 de maio de 2018

Por que o cometa Halley "micou" em 1986 ? - Parte 1

O cometa Halley teve um encontro espetacular com a Terra em 1910. Naquele ano, apresentou grande brilho, com magnitude visual aparente entre 0 e 1, e uma cauda com comprimento estimado em cerca de 70 graus. Essas características geraram enorme expectativa em relação ao seu retorno ao Sistema Solar interior em 1986. No entanto, a observação do cometa nesse retorno foi decepcionante. Em abril de 1986, dois meses após o periélio, o Halley apresentou magnitude visual próxima de 2 e um comprimento máximo de cauda entre 10 e 20 graus.

Quais são as possíveis causas dessa grande variação na aparência morfológica entre duas passagens consecutivas? Podemos considerar fatores sociais e geométricos:

i) Em 1910, a maior parte da população mundial vivia em áreas rurais, onde a poluição luminosa era mínima ou inexistente. Isso favorecia a observação de estruturas tênues na coma e na cauda do cometa, que seriam facilmente ofuscadas em céus urbanos.

ii) A geometria Terra–Sol–cometa não foi favorável em 1986. Como mostra a Fig. 1, o Halley estava a cerca de 60 milhões de quilômetros da Terra em sua máxima aproximação, muito mais distante do que os 22 milhões de quilômetros registrados em maio de 1910. Isso implicou uma diminuição de seu brilho aparente, de acordo com a lei do inverso do quadrado da distância. A geometria orbital também dificultou a observação ampla do cometa. Em 1910, no auge do brilho, ele era visível ao entardecer. Em 1986, ao contrário, só podia ser observado na segunda metade da noite e durante a madrugada, o que naturalmente reduziu o número de observadores ocasionais.


Fig.1 - Cometa Halley no instante de sua máxima aproximação da Terra em
 11 de abril de 1986. 

sexta-feira, 29 de dezembro de 2017

Powerpoint do Cometa Halley

Adjetivos empregados para descrever o cometa 1P/Halley em artigos publicados em 1910, no Jornal do Brasil, do Rio de Janeiro.



Afirmo que o cometa Halley é um fator importante no despertar do interesse da humanidade por esses corpos celestes. Chego a essa conclusão com base em evidências empíricas, como o grande porte de seu núcleo e a pequena distância à Terra, que resultam em brilho intenso, e não por convicções pessoais. O rigor da análise não pode ser substituído pela força de narrativas.

domingo, 17 de dezembro de 2017

Uma notícia de jornal

A nota abaixo foi publicada no jornal "A Notícia" de Salvador (BA), em 15 de maio de 1915:


Acredito que muitos dos cidadãos da cidade de Monte Alto (BA) faleceram sem saber qual cometa estavam observando. Com a ajuda da internet, foi possível conjecturar que o objeto era muito provavelmente o cometa C/1915 C1, descoberto pelo astrônomo amador e construtor de telescópios estadunidense John E. Mellish.

É interessante notar a comparação morfológica com o 1P/Halley feita por esses observadores, cujo esplendor de maio de 1910 devia estar vivo na memória de todos. A associação ao cometa Biela feita pelo autor da nota é compreensível. O cometa Biela não foi tão brilhante quanto o Halley ou o Mellish, mas foi o primeiro a apresentar um impressionante processo de fragmentação do núcleo em 1845, o qual foi extensivamente estudado por diversos observadores ao redor do mundo. O cometa Mellish apresentou um processo similar quando se aproximou do Sol.

sexta-feira, 10 de maio de 2013

Eta Aquarídeos 2013 em Salvador

Compilação de 63 vídeos da chuva de meteoros Eta Aquarídeos (ETA) registrados entre 05 e 09 de maio de 2013 UT, em Salvador (Bahia, Brasil). Além dos ETA, foram registrados alguns meteoros esporádicos e um flare associado a um satélite artificial. Os horários dos registros estão na "Hora de Brasília" (UT-3h). ETA é uma chuva de meteoros associada ao célebre cometa 1P/Halley. Os vídeos foram obtidos por uma câmera all sky apontada para o sudoeste.



terça-feira, 12 de fevereiro de 2013

Observatório Astronômico Eurípedes Barsanulfo (R.I.P)

Neste post, compartilho um trecho da seção "Observatórios Antigos" do site "Uranometria Nova". Me recordo de ter lido sobre este observatório na revista "Guia do Halley", lançada pela Editora Abril em 1985 ou 1986. Nesse breve relato, testemunhamos o triste desfecho de um observatório astronômico bem equipado que poderia estar contribuindo para a formação de novas gerações e coletando dados relevantes em várias áreas da astronomia:

Proprietário: Fundação Educandário Pestalozzi

Responsável pelo Observatório: Dr. Tomás Novelino (1901-2000)

Localizado na Fazenda Pestalozzi
Rodovia Cândido Portinari, km 381
Franca - SP

Fundado em: 1986

O Observatório foi desativado e perdido durante os anos 90 do século passado, devido à crise no setor calçadista. A Fundação se desfez das unidades escolares, da fazenda e do próprio Observatório. Contava com um Telescópio Newtoniano com 602 mm de diâmetro, construído por José Scarel Filho, e uma Câmera Astrográfica Schmidt com 500 mm de diâmetro, também fabricada no Brasil.


Visão panorâmica do observatório em suas instalações
na fazenda Pestalozzi.



Na imagem, vemos um telescópio que aparenta ser do tipo newtoniano com 602 mm de diâmetro, em uma montagem altazimutal. É possível que o Dr. Novelino, ex-aluno do professor Barsanulfo, esteja conduzindo a observação. Ao que parece, o instrumento não estava instalado em nenhuma das duas cúpulas da imagem anterior. A imagem original pode ser encontrada aqui.


terça-feira, 11 de dezembro de 2012

Um belíssimo trecho de um livro

Parte final do comentário sobre o artigo "Uma relação do extraordinário meteoro visto em toda a Inglaterra aos 19 de março de 1719" escrito por Edmond Halley, publicado no livro Cometa (1985) de  Carl Sagan & Ann Druyan:

"Halley não tem mão de si; está sôfrego por saber, e a impaciência suplanta a sua polidez habitual. Quer saber tudo sobre o meteoro: altitude, velocidade, o som que produziu, de que tamanho era, de que era feito. Não podemos deixar de sentir-nos privilegiados por conhecemos as respostas a essas perguntas; não podemos deixar de desejar que de algum modo nos fosse dado compartilhá-las com ele."

Capa do livro "Cometa" em língua inglesa.

sábado, 11 de agosto de 2012

Uma Possível Luneta T. Cooke & Sons no Recôncavo Baiano

Imagens de uma possível luneta altazimutal T. Cooke & Sons, com aproximadamente 10 cm de abertura. Este instrumento foi doado ao CFP-UFRB (Amargosa-BA) há alguns anos. Há planos para sua reforma e uso no projeto de divulgação científica em Astronomia da instituição. Acredita-se que o telescópio tenha sido construído na segunda metade do século XIX, certamente antes de 1886. É possível que alguém tenha observado o cometa 1P/Halley, em 1910, com este instrumento. As imagens a seguir foram obtidas pelo aluno do curso de Física da UFRB, Yulo Augusto, para que eu pudesse realizar sua identificação. Espero estar correto.






segunda-feira, 16 de julho de 2012

P/2012 NJ (La Sagra)

Imagem CCD LRGB do NEO P/2012 NJ obtida no Observatório Slooh em 16-07-2012 UT. Este objeto possui uma magnitude absoluta  13,4. Isso implica num diâmetro que pode variar de 6 a 13km dependendo do albedo do objeto. Este NEO é consideravelmente grande em comparação com os asteroides que passam  frequentemente nas cercanias da Terra. A órbita de P/2012 NJ é típica de cometas da família de Halley.

2012 NJ (seta). Devido ao movimento próprio, as imagens do objeto nos filtros
LRGB formaram uma linha 

Diagrama orbital gerado pelo JPL Small-Body Database Browser. A órbita
de Júpiter é o maior círculo no plano do Sistema Solar.  Este diagrama corresponde

a posição do objeto algumas horas antes da obtenção da imagem anterior.

2012 NJ no Sistema Solar interior


sexta-feira, 9 de março de 2012

Acidente da Challenger

Um dos acontecimentos que mais me impactaram foi a explosão do "space shuttle" Challenger. Em 28 de janeiro de 1986, 73 segundos após o lançamento, um problema na vedação em um dos foguetes auxiliares causou a explosão. A nave se desintegrou. A cabine, ocupada por sete tripulantes, foi encontrada intacta no fundo do mar. Os corpos de todos os ocupantes ainda estavam presos em seus assentos. Provavelmente, alguns tripulantes ainda sobreviveram à explosão e à fragmentação violenta da nave. Esta conclusão foi obtida pela verificação de que as reservas de ar de emergência haviam sido usadas. Junto com a Challenger foi destruído o telescópio espacial UV SPARTAN-203. Este instrumento deveria observar o cometa 1P/Halley, obtendo espectros e imagens. Na missão havia a tripulante civil Christa McAuliffe. McAuliffe era uma professora de estudos sociais do ensino médio e havia sido selecionada para o voo dentro do programa "Professores no Espaço". O acidente ocorreu às 11:39 da manhã EST, ou 15:39 no horário de Brasília. Soube da tragédia ao vivo pela TV. Era um dia ensolarado. Corri para o quintal de minha casa no Rio de Janeiro e contei o ocorrido para minha mãe e meu irmão. Ficamos chocados. Para mim, astronautas perecendo em uma missão era impossível, dado o avanço tecnológico e a forte propaganda a favor da "excelência americana", tese política tão cara à imprensa brasileira. O último acidente grave havia ocorrido em 1971, vitimando os três cosmonautas da Soyuz 11.


Cobertura do lançamento ao vivo pela CNN

sexta-feira, 17 de fevereiro de 2012

Câmera Cometária do OPD

Imagens da "câmera cometária" do OPD registradas em meados da década de 1990. Este instrumento foi utilizado para capturar imagens do cometa 1P/Halley, com o objetivo de realizar análises morfológicas da sua coma e cauda. Os dados obtidos foram publicados em revistas especializadas e apresentados em congressos científicos. A câmera consistia em um astrógrafo equipado com um espelho de 0,3 m de abertura e razão focal f/4, com a correção da aberração esférica do espelho primário realizada por uma lente Ross. Inicialmente, a câmera foi instalada "piggyback" sobre o telescópio Zeiss. As imagens exibem a configuração final do instrumento, que contava com um telescópio guia, montagem equatorial alemã e uma cúpula dedicada. Na época em que essas fotografias foram tiradas, a câmera cometária já havia sido desativada, sendo substituída por um telescópio Meade de 16 polegadas remotamente operado por pesquisadores da UFSC.





Cúpulas da "Camera Cometária" e  do 1,6m



Cúpula do telescópio Zeiss (esquerda) e a da "câmera cometária"
Você pode encontrar imagens de outros telescopios do OPD nos seguines links: 1, 2, 3

quinta-feira, 2 de fevereiro de 2012

Globo Repórter sobre o Cometa Halley

Trechos do Globo Repórter de 03 de outubro de 1985 sobre a passagem do cometa Halley.  Programa interessante apesar de alguns deslizes. O deslize mais grotesco foi o tempo dado a uma astróloga no programa.  Esta "especialista" teve intermináveis 52 s para vomitar análises pseudocientíficas sobre o 1P/Halley. Curioso que o tempo dado a astróloga foi maior que o dado a astrônoma brasileira Rosaly Lopes, da qual só ouvimos sua voz no fundo de uma narração do repórter Renato Machado sobre a vida de Edmond Halley. São particularmente interessantes as estimativas das dimensões angulares do cometa feitas por observadores cariocas em 1910. Baseado no relato de uma senhora,  conclui que a cauda possuiu 180 graus de comprimento (!?!) em uma dada ocasião. Acho que isso é muitíssimo exagerado. Um observador canadense reportou que a cauda do 1P/Halley atingiu 65 graus de comprimento máximo em 1910. Curioso que não se falou absolutamente nada sobre o que os astrônomos profissionais brasileiros estavam planejando para estudar o cometa Halley. Será que isso não interessaria a população da época?


segunda-feira, 30 de janeiro de 2012

Giotto e o 1P/Halley

Vídeo da Agência Espacial Europeia (ESA) comemorando os 25 anos do encontro da sonda Giotto com o cometa Halley. A nave se aproximou a cerca de 600 km do núcleo do cometa em 14 de março de 1986 (UT). Essa distância mínima só foi alcançada graças à astrometria precisa fornecida pelas sondas soviéticas VEGA-1 e VEGA-2, demonstrando, de forma inequívoca, o sucesso de uma colaboração científica entre a URSS e os países europeus — um exemplo notável de cooperação internacional em plena Guerra Fria, contrastando com os entraves geopolíticos atuais, que infelizmente têm afetado até colaborações científicas.

Embora a Giotto estivesse equipada com um escudo Whipple para proteção contra partículas de poeira, ela sofreu dois impactos severos de grãos em hipervelocidade. O primeiro causou a perda temporária da orientação da nave por mais de 30 minutos. O segundo destruiu sua câmera CCD, impedindo novas imagens — felizmente, isso ocorreu após o registro do núcleo do cometa.

Em 1992, após manobras orbitais complexas, a Giotto realizou um segundo encontro, desta vez com o cometa Grigg–Skjellerup, aproximando-se a cerca de 200 km do núcleo. Durante esse sobrevoo, a nave conduziu diversas medições do ambiente cometário, incluindo contagem de grãos de poeira, análise do campo magnético e outros parâmetros relevantes.

Comparadas às imagens de núcleos cometários obtidas por missões mais recentes, as da Giotto podem parecer modestas em qualidade. No entanto, do ponto de vista científico, foram extraordinariamente valiosas. Elas confirmaram o modelo da "bola de neve suja" proposto por Fred Whipple e revelaram que os núcleos cometários não são inteiramente ativos. No caso do cometa Halley, cerca de 10% da superfície estava ativa, emitindo gás e poeira.

Lembro-me do impacto que essas imagens, mesmo borradas, causaram quando foram exibidas no Jornal Nacional. Naquela época, havia uma antena parabólica instalada no Observatório Nacional, no Rio de Janeiro, que recebia diretamente os sinais do centro de controle da Giotto, permitindo a transmissão das imagens aos astrônomos e ao público em tempo quase real.




Minha Vivência com o Colonialismo Cultural na Ciência

  Esta postagem tem um caráter de reflexão e registro para futuras gerações de cientistas brasileiros. Em 15 de dezembro de 2022, enviei uma...