terça-feira, 28 de novembro de 2023
Outburst do cometa 12P/Pons-Brooks
sábado, 25 de março de 2023
Hercóbulus
Ciência e Misticismo
A crença na existência do objeto denominado Hercóbulus ou Hercólubus é atribuída a certos esotéricos.
Em 1984, astrônomos estadunidenses formularam uma hipótese para explicar por que registros fósseis indicam que, aproximadamente a cada trinta milhões de anos, ocorre a extinção de uma grande parte dos seres vivos terrestres. Esses pesquisadores propuseram a existência de uma pequena estrela anã vermelha, chamada Nêmesis, que orbitaria o Sol em uma elipse com um semi-eixo maior de 90.000 U.A., ou 1,4 anos-luz. Quando esta estrela se aproximasse do periélio (a parte da órbita mais próxima do Sol), ela passaria por uma região distante cerca de 10.000 U.A. do Sol, conhecida como Nuvem de Oort-Öpik, onde bilhões de núcleos de cometas estão em órbitas quase circulares. Durante a passagem de Nêmesis, esses cometas seriam perturbados gravitacionalmente, sendo arremessados em direção às partes mais internas do Sistema Solar. Devido ao grande número de cometas, a probabilidade de colisão com a Terra seria consideravelmente maior do que a atualmente existente.
Alguns esotéricos, ao tomarem conhecimento desta hipótese por meio dos jornais da época, modificaram-na sem justificativas plausíveis, alterando o tipo de objeto de estrela para planeta ou cometa, modificando sua órbita para uma trajetória que passa pela região planetária do Sistema Solar, atribuindo cores ou insinuando que os astrônomos conhecem sua existência, mas preferem não revelá-la para não alarmar a população (semelhante ao enredo do filme Deep Impact ou de um episódio de X-Files). O tema "Hercóbulus" ganhou notoriedade em programas sensacionalistas de TV em alguns países da América Latina, resultando na produção de vários livros, artigos, palestras e cursos sobre o assunto.
Descobrir Nêmesis é uma tarefa complexa, pois o objeto emite radiação predominantemente na faixa do infravermelho (devido à baixa temperatura superficial), uma faixa para a qual os detectores da época não eram muito sensíveis. Além disso, seria necessário fazer uma varredura em todo o céu, o que requer um telescópio de uso quase exclusivo. A busca por Nêmesis foi realizada pelo IRAS, que usou modelos estelares para prever o brilho esperado, mas nada foi descoberto nos dados disponíveis.
Uma varredura do céu em três bandas do infravermelho, realizada no Chile (DENIS), descobriu a anã vermelha DENIS-P J104814.7-395606.1, com mais de 60 massas de Júpiter, a aproximadamente 13 anos-luz do Sol. Como o brilho dos objetos astronômicos diminui com o inverso do quadrado da distância, seria mais fácil descobrir Nêmesis a 1,4 anos-luz do que a anã vermelha encontrada. A provável órbita de DENIS-P indica que ela gira ao redor do núcleo da Via Láctea, assim como o Sol. A trajetória calculada de DENIS-P no espaço não sugere uma possibilidade de colisão com a Terra ou que ela arremesse cometas para o Sistema Solar interior. A varredura realizada no Chile, com detectores modernos e sensíveis, não encontrou Nêmesis ou o imaginário Hercólubus, apesar das alegações persistentes de que este último se aproxima da Terra.
Nuvem de Oort e o Cinturão de Kuiper
Nuvem de Oort-Öpik e órbitas elípticas, parabólicas e hiperbólicas de alguns hipotéticos cometas. Fonte: Bergamini, D.:1970 In, O Universo, Biblioteca da Natureza Life, Livraria José Olympio Editora, Rio de Janeiro, P.69 |
Durante as primeiras décadas do século XX, diversos pesquisadores investigaram as perturbações gravitacionais planetárias sobre as órbitas de corpos do Sistema Solar, como asteroides e cometas. Esses estudos levaram ao desenvolvimento das primeiras ideias sobre a distribuição estatística dos parâmetros orbitais desses corpos.
Strömgrem (1914, 1947) demonstrou que as órbitas hiperbólicas dos cometas (1/
Sinding (1948) determinou valores de para vinte e um cometas de longo período. Esses resultados, juntamente com o trabalho de Van Woerkom (1948), formaram a base para o trabalho de Oort (1950) sobre a existência de um reservatório de cometas além dos limites do Sistema Solar. A teoria de uma hipotética nuvem de cometas distantes, com trajetórias estáveis frente a perturbações estelares, foi formulada por Öpik em 1932, antes de Oort.
Oort deduziu a existência desta nuvem com base no grande número de cometas de longo período com dentro de uma amostra de dezenove cometas. Seus afélios estariam a pelo menos 200.000 U.A. do Sol. Oort concluiu que haveriam órbitas estáveis a aproximadamente 200.000 U.A., as quais poderiam ser perturbadas por passagens estelares próximas. Admitindo que as passagens estelares poderiam tornar randômica a distribuição orbital da nuvem e considerando a idade do sistema solar, a nuvem poderia conter cerca de cometas. Com uma massa cometária média da ordem de , a massa total da nuvem seria de aproximadamente 0,3 massas terrestres ou .
De acordo com a teoria da difusão orbital de Van Woerkom (1948) para as perturbações planetárias, o número de cometas com deveria ser maior do que o observado. Em resposta, Oort e Schmidt (1951) sugeriram que muitos cometas poderiam não ser facilmente descobertos em suas primeiras passagens pelo Sistema Solar interior devido às suas grandes distâncias de periélio e consequentemente baixo brilho. Esse trabalho originou o conceito de cometas novos (brilhantes devido à grande produção de poeira e gás e originários da Nuvem de Oort) e cometas velhos (pouco brilhantes devido à baixa produção de poeira e gás e com órbitas elípticas com períodos orbitais curtos).
Imagem CCD do centauro (2060) Chiron (círculo verde) obtida em 05/05/1999 no Observatório do Pico-dos-Dias (Brasópolis, Minas Gerais). Este objeto, que orbita entre Saturno e Urano, foi provavelmente um membro do cinturão de Edgeworth-Kuiper, colocado nesta órbita mais próxima do Sol devido a perturbações gravitacionais de Netuno ou Urano. |
Graças aos avanços tecnológicos em telescópios e detectores, além de estudos dinâmicos das trajetórias de cometas, sabemos hoje que o Sistema Solar está envolvido por um vasto disco composto por núcleos de cometas. Esse disco, conhecido como cinturão de Edgeworth-Kuiper, começa um pouco além da órbita de Netuno e se estende muito além, até a esferoidal Nuvem de Oort, da qual grande parte dos cometas hipoteticamente se origina.
A existência do cinturão de Edgeworth-Kuiper foi sugerida independentemente por K.E. Edgeworth em 1949 e por G. Kuiper em 1951. Eles propuseram que essa região, em forma de disco, se encontraria a pelo menos 36 U.A. do Sol. Em 1980, o uruguaio J. Fernandez propôs que este disco seria o reservatório de cometas que, após encontros com os planetas gigantes, são injetados em órbitas com períodos orbitais curtos.
Essas hipóteses foram mais fundamentadas com a descoberta de um corpo com magnitude 22, situado além da órbita de Netuno, o primeiro membro conhecido do Cinturão de Edgeworth-Kuiper. Este objeto, designado 1992 QB1, foi descoberto por Jewitt e Luu em 1993. Após essa descoberta, diversas outras foram realizadas, de modo que, em 1998, já se conheciam 66 desses corpos. Como essas descobertas foram feitas em uma pequena área do céu, acredita-se que possam existir até 160.000 objetos similares ao 1992 QB1, com diâmetros maiores que 100 km, e alguns tão grandes quanto Plutão (2.360 km) e o seu satélite Caronte (1.200 km).
Referências
Betzler, A. S.: 1998, in Um estudo dos cometas Hale-Bopp e Chiron, Projeto de Final de Curso para a Obtenção do Título de Astrônomo, UFRJ-CCMN/Departamento de Astronomia, Rio de Janeiro, p. 18, 30
Edgeworth, K.E.: 1949, MNRAS 109, 600.
Fenandez, J.: 1980, MNRAS 192, 481
Jewitt, D. & Luu, J.: 1993, Nature 362, 730
Kuiper, G.P.: 1951, in Astrophisics: A Topical Symposium, J.A . Hynek ed. McGraw Hill, N.Y., 357
Oort, J.H.: 1950, Bull. Astron. Inst. Netherl. 11, 91
Oort, J.H. & Schmidt, M.: 1951, Bull. Astron. Inst. Netherl. 11, 259
Öpik, E.J.: 1932, Proc. Amer. Acad. Astr. Sci. 67, 199
Sagan, C & Druyan, A. : 1985, in Cometa, Livraria Francisco Alves Editora S.A.,p.300-301
Strömgrem, E.: 1914, Publ. Obs. Compenhagen 19,
Strömgrem, E.: 1947, Publ. Obs. Compenhagen 144,
Van Woerkom, A . J. J.: 1948, Bull. Astron. Inst. Netherl. 10, 445
quarta-feira, 15 de fevereiro de 2023
252P/LINEAR
Registro do cometa LINEAR obtido no loteamento Santo Antônio, em Amargosa (BA). As imagens foram capturadas com uma câmera Nikon D80 em 22-03-2016, entre 06h47min e 07h07min UT. A figura (b) é o resultado da soma de nove fotografias, cada uma com 15 segundos de exposição, ISO 1600, obturador f/5,3 e objetiva de 40 mm. As fotografias foram alinhadas e somadas com o software Sequator.
A magnitude do cometa devia ser próxima de cinco na ocasião do registro, segundo observadores da REA-Brasil.
O núcleo deste cometa deve ter um raio de 0,33 km, assumindo que não seja hiperativo. Este foi o menor objeto do sistema solar que consegui registrar até o momento usando uma simples máquina fotográfica.
(a) - Identificação das constelações presentes na imagem (b) pelo Astrometry.com. |
(b) - Um zoom de 250 x do Google Chrome facilita a visualização do objeto (seta). |
segunda-feira, 6 de fevereiro de 2023
C/2022 E3 (ZTF)
Registro do cometa ZTF realizado no bairro Santo Antônio (indicado pela seta), no centro histórico de Salvador. As imagens foram capturadas com uma câmera Canon Rebel T100 no dia 05/02/2023, entre 22h29min e 22h33min UT. A figura (a) resulta da soma de 10 fotografias, cada uma com 15 segundos de exposição, ISO 800, obturador f/3.5 e lente grande angular (18 mm). As imagens foram alinhadas, somadas e corrigidas para poluição luminosa utilizando o software Sequator.
De acordo com o COBS, a magnitude visual total do cometa devia ser em torno de 5,9, o que está próximo do limite de detecção da minha câmera, dado o ambiente urbano.
O núcleo deste cometa deve ter um raio mínimo estimado em 2,3 km, assumindo que ele não seja hiperativo.
(b) Identificação das constelações presentes na imagem (a) pelo Astrometry.com. |
domingo, 5 de fevereiro de 2023
O cometa 96P/Machholz e sua composição química: é possível acreditar em tudo o que se lê na internet?
Diversos canais de divulgação científica na internet aventaram duas hipóteses para explicar por que o cometa Machholz 1 apresenta abundâncias de cianogênio e carbono abaixo das encontradas em uma amostra homogênea, criada e atualizada há décadas por pesquisadores do Lowell Observatory (EUA). A primeira hipótese é que o cometa se formou em uma região diferente do sistema solar em relação àquela onde a maioria dos cometas da amostra surgiu. Esta hipótese deve ser avaliada com cautela, pois sempre existe a possibilidade de viés observacional na nossa amostra. Tal viés pode estar associado à escolha dos objetos: astrônomos tendem a observar objetos mais brilhantes, uma vez que isso melhora a qualidade dos registros. A hipótese alternativa é que o cometa Machholz 1 tenha origem interestelar, ou seja, que tenha vindo de fora do sistema solar. Embora esta segunda hipótese seja intrigante, ela é altamente especulativa, uma vez que é muito difícil inferir a origem interestelar de um cometa periódico, como o Machholz 1, apenas com base em sua órbita atual. Além disso, sistemas exoplanetários são muito provavelmente formados de maneira semelhante ao nosso, com as mesmas substâncias, talvez em abundâncias ligeiramente diferentes, mas nada que resulte em situações extremas como a hipótese que sugere que planetas gigantes tendem a se formar ao redor de estrelas mais metálicas que o Sol.
Devemos ter cuidado com o que lemos na internet, pois jornalistas não são cientistas e não têm a obrigação de ser, e astrônomos às vezes podem ser mal interpretados.
domingo, 19 de dezembro de 2021
C/2021 A1 (Leonard)
Cometa (seta) - 22h 09m UT - 10 s de exposição, grande angular de 29 mm, obturador f/4.5 e ISO 800. O objeto brilhante é o planeta Vênus. |
Autor do blog durante a obtenção das imagens. |
Ascenção da Lua com 98,9% de sua superfície iluminada. A edificação é a Igreja e Mosteiro de Nossa Senhora do Monte Serrat. |
terça-feira, 3 de agosto de 2021
Observações do Grande Cometa de 1843 no Rio de Janeiro
Artigo do historiador carioca José Vieira Fazenda sobre o Grande Cometa de 1843 no Rio de Janeiro
O artigo, publicado originalmente no jornal A Notícia em 21 de maio de 1910, perto do auge do brilho do cometa Halley, e republicado pela Revista do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, Tomo 95, Volume 149, em 1943, oferece um relato detalhado das observações do Grande Cometa de 1843 no Rio de Janeiro. José Vieira Fazenda descreve minuciosamente a morfologia e a posição do cometa no céu, fornecendo informações valiosas sobre sua aparência e trajetória.
Além das observações científicas, o artigo inclui um poema de Antônio Francisco Dutra e Melo, que captura a majestade do cometa e sua impressionante presença no firmamento. O texto de Fazenda, enriquecido pela arte poética, oferece uma visão compreensiva e poética da importância desse evento astronômico, refletindo a emoção e o impacto que o Grande Cometa de 1843 teve sobre os observadores da época.
Cometa de 1843 segundo o professor Rubens de Azevedo. Ilustração extraida do livro " O Cometa de Halley" (Editora do Brasil, 1985). |
quarta-feira, 25 de novembro de 2020
Tentativa de registro do cometa C/2020 M3 (ATLAS)
Figura (a) - A posição estimada do cometa é indicada pelo círculo. |
quarta-feira, 29 de julho de 2020
C/2020 F3 (NEOWISE)
b) Análise astrométrica da imagem a) efetuada pelo software online "astrometry.net". |
c) Cometa (seta) - 21h 31m UT - 15 s de exposição, grande angular de 18 mm, obturador f/10 e ISO 1600. O cometa apresentava magnitude próxima de cinco (5). |
sexta-feira, 19 de junho de 2020
BVR photometry of comets 63P/Wild 1 and C/2012 K1 (PANSTARRS)
Curvas de luz rotacionais do cometas 63P e K1. |
Você pode encontrar algumas imagens usadas neste artigo nos seguintes links: 63P (1 e 2) e K1 (1, 2 e 3).
sexta-feira, 3 de janeiro de 2020
Viação Cometa
A Viação Cometa S.A. é uma empresa de transporte rodoviário de passageiros que atende parte das regiões Sul e Sudeste do Brasil desde 1948. Suspeito que o inusitado nome tenha sido inspirado pelo "Grande Cometa do Sul" (C/1947 X1), que foi um objeto facilmente visível a olho nu em dezembro de 1947.
Utilizei seus serviços recentemente e algo que me chamou a atenção foi o nome de uma classe de ônibus da empresa: Halley. Apesar de utilizar o nome do cometa mais famoso da história da astronomia, a imagem no ônibus é do cometa Hale-Bopp, que foi extremamente brilhante em 1997, muito mais do que o cometa Halley em 1986.
A imagem do Hale-Bopp utilizada no ônibus foi provavelmente obtida por E. Kolmhofer e H. Raab em 04-04-1997 no Observatório Johannes-Kepler em Linz, Áustria.
Compreendo perfeitamente a razão de se utilizarem dois cometas diferentes no mesmo ônibus. Apesar de milhões de pessoas terem visto o cometa Hale-Bopp, uma quantidade muito superior ao Halley em 1986, quase ninguém sabia o nome do objeto. O nome "Hale-Bopp" não entrou no imaginário popular da mesma forma que o cometa Halley.
domingo, 29 de setembro de 2019
BVR broadband photometry of comets 1P/Halley and 4P/Faye
Na última segunda-feira, 23 de setembro de 2019, o artigo "BVR broadband photometry of comets 1P/Halley and 4P/Faye" foi aceito para publicação na revista "New Astronomy". Este trabalho é o resultado de uma parceria bem-sucedida entre mim e Orahcio Felício de Sousa, ambos professores da UFRB. Fiquei extremamente feliz com esta publicação, pois tive a oportunidade de contribuir com o estudo de dois cometas importantes para a história da astronomia.
Edmund Halley previu, em 1705, que o cometa 1P retornaria ao sistema solar interior com décadas de antecedência. O cometa Faye foi o primeiro a ser observado pelo Hubble Space Telescope, numa passagem próxima da Terra (0,6 ua) em 1991.
Neste trabalho, nós pudemos correlacionar observações visuais e fotométricas do cometa Halley feitas por observadores brasileiros e estrangeiros, algo surpreendentemente inédito na literatura, apesar do volume de dados coletados pelo PBOCH (Programa Brasileiro de Observação do Cometa Halley).
O resumo melhorado do trabalho é apresentado a seguir:
Curvas de luz rotacionais dos cometas Halley e Faye apresentadas neste artigo. A fase 0.33 corresponde a um outburst no cometa Halley. |
quarta-feira, 26 de junho de 2019
46P/Wirtanen e Mira Ceti
Registro do cometa 46P/Wirtanen obtido em Salvador no dia 06/12/2018 UT. A imagem é o resultado da soma de três fotografias, cada uma com 15 segundos de exposição, feitas com uma câmera Zenit 12XS. As fotografias foram alinhadas e somadas com o software IRIS. O filme utilizado foi um Kodak ASA 200. A magnitude visual do cometa era em torno de cinco, tornando-o um objeto difícil de ser registrado em um céu urbano. O cometa Wirtanen era o alvo inicial da sonda Rosetta, mas foi substituído pelo cometa 67P devido à indisponibilidade do foguete Ariane 5 durante a janela planejada de lançamento.
Utilizei a mesma câmera analógica para obter fotos dos cometas Hale-Bopp, Holmes, Hyakutake, Machholz e NEAT.
domingo, 6 de maio de 2018
Por que o cometa Halley "micou" em 1986 ? - Parte 2
Comparação das dimensões angulares do cometa 1P/Halley em momentos próximos das máximas aproximações da Terra em 1910 e 1986
A emulsão fotográfica utilizada por E. E. Barnard em 1910 era certamente muito menos sensível do que a empregada nas imagens de 1986, o que possivelmente justifica o uso de um tempo de exposição mais longo e um instrumento de maior abertura (Fig. 1). No entanto, pelas dimensões angulares deduzidas, é evidente que o cometa Halley não era um objeto facilmente discernível em um céu urbano em abril de 1986. Embora fosse visível a olho nu, o cometa apresentava um aspecto e dimensões angulares semelhantes aos do aglomerado globular NGC 5139, o Ômega Centauri da constelação do Centauro (Fig. 2).
Fig. 1 -Fotografia obtida em 29 de Maio de 1910 às 15:11 (ou 15:28!) UT por E.E. Barnard no Observatório de Yerkes (EUA), usando o telescópio "Bruce" de 0,25-m de abertura, e publicada originalmente no jornal New York Times. O campo de visão é 7,44 x 5,63 graus e a escala de placa é de 33,8 arcsec/pixel. O aspecto trilhado das estrelas de campo é causado pelo tentativa de acompanhar o movimento próprio do cometa no céu. O comprimento da cauda do cometa é de cerca de 5,4 graus. |
Campo de visão no céu da foto anterior. Imagem gerada pelo programa online astrometry.net |
Campo de visão no céu da foto anterior. Imagem gerada pelo programa online astrometry.net |
quinta-feira, 3 de maio de 2018
Por que o cometa Halley "micou" em 1986 ? - Parte 1
O cometa Halley teve um encontro espetacular com o planeta Terra em 1910. Nesse ano, o cometa apresentou um grande brilho, com magnitude visual aparente variando entre 0 e 1, e um comprimento de cauda de cerca de 70 graus. Devido a essas características, criou-se uma enorme expectativa em relação ao retorno deste objeto ao sistema solar interior em 1986. Entretanto, a visão do cometa foi decepcionante. Em abril de 1986, dois meses após seu periélio, o cometa apresentou uma magnitude visual próxima de 2 e um comprimento máximo de cauda de 10 a 20 graus.
Quais são as possíveis origens dessa grande variação na aparência morfológica entre duas passagens consecutivas? Podemos considerar parâmetros sociais e geométricos:
i) Em 1910, a maioria da população mundial vivia no campo, onde o nível de poluição luminosa era extremamente baixo ou inexistente. Isso possibilitou a observação de estruturas mais tênues na coma e na cauda do cometa.
ii) A geometria Terra-Sol-Cometa não era favorável em 1986. Se analisarmos a Fig. 1, percebemos que o cometa estava a cerca de 60 milhões de quilômetros da Terra em sua máxima aproximação, bem mais distante dos 22 milhões de quilômetros da Terra em maio de 1910. Isso implicou uma diminuição de seu brilho, seguindo a lei do inverso do quadrado da distância. A geometria orbital também não favoreceu o aumento do número de observadores. Em 1910, no auge de seu brilho, o cometa era visível ao entardecer, situação contrária à de 1986, quando o objeto era visível apenas após a segunda metade da noite e durante a madrugada.
Fig.1 - Cometa Halley no instante de sua máxima aproximação da Terra em 11 de abril de 1986. |
quarta-feira, 18 de abril de 2018
TCC de Alberto Silva Betzler
Em 30 de outubro de 1998, defendi meu Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) em Astronomia na UFRJ. Este TCC trata da análise de dados fotométricos do centauro (2060) Chiron e do cometa C/1995 O1 (Hale-Bopp), estando associado a três artigos publicados em periódicos internacionais. O capítulo 2 apresentou o estudo de três ocultações estelares pela coma do cometa Hale-Bopp, registradas em junho de 1996, no Observatório do Pico dos Dias (Minas Gerais). Esses resultados foram publicados apenas em 2017, ou seja, 19 anos após a apresentação de meu TCC.
Como forma de comemorar meus 20 anos de carreira e para auxiliar estudantes que se encontrem em situação semelhante, disponibilizo meu TCC para download neste link.
domingo, 25 de março de 2018
sexta-feira, 29 de dezembro de 2017
Powerpoint do Cometa Halley
Afirmo que o cometa Halley é um fator importante no despertar do interesse da humanidade pelo estudo destes objetos. Chego a essa conclusão com base na grande dimensão de seu núcleo e na pequena distância à Terra, que resultam em seu notável brilho no céu.
Utilizei evidências empíricas para chegar a essa conclusão, e não convicções.
domingo, 17 de dezembro de 2017
Uma notícia de jornal
Acredito que muitos dos cidadãos da cidade de Monte Alto (BA) faleceram sem saber qual cometa estavam observando. Com a ajuda da internet, foi possível conjecturar que o objeto era muito provavelmente o cometa C/1915 C1, descoberto pelo astrônomo amador e construtor de telescópios estadunidense John E. Mellish.
É interessante notar a comparação morfológica com o 1P/Halley feita por esses observadores, cujo esplendor de maio de 1910 devia estar vivo na memória de todos. A associação ao cometa Biela feita pelo autor da nota é compreensível. O cometa Biela não foi tão brilhante quanto o Halley ou o Mellish, mas foi o primeiro a apresentar um impressionante processo de fragmentação do núcleo em 1845, o qual foi extensivamente estudado por diversos observadores ao redor do mundo. O cometa Mellish apresentou um processo similar quando se aproximou do Sol.
sexta-feira, 11 de julho de 2014
C/2012 X1 (LINEAR) - Registro
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Esta postagem é uma forma de catarse e também um registro para futuras gerações de cientistas brasileiros. Em 15 de dezembro de 2022, envi...
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