domingo, 5 de fevereiro de 2023

O cometa 96P/Machholz e sua composição química: dá para acreditar em tudo que se lê na internet?


Diversos canais de divulgação científica na internet aventaram duas hipóteses para explicar porque o cometa Machholz 1 tem abundâncias de cianogênio e carbono abaixo do encontrado numa amostra homogênea, criada e atualizada há décadas por pesquisadores do Lowell Observatory (EUA). A primeira é que o cometa se formou em uma região diferente do sistema solar daquela onde a maioria dos cometas da amostra surgiram. A primeira hipótese tem que ser avaliada com cuidado porque sempre há a possibilidade de ocorrer um viés observacional em nossa amostra. Este viés pode estar associado à escolha do objeto: astrônomos tendem a observar objetos mais brilhantes, porque isso melhora a qualidade do registro. A hipótese alternativa é que o cometa Machholz 1 tenha vindo de fora do sistema solar. A segunda hipótese é bem sedutora, mas é uma grande especulação, pois e que é muito difícil inferir a origem interestelar de um cometa periódico, como o Machholz 1, pela sua órbita atual. Além disso, sistemas exoplanetários são muito provavelmente formados da mesma maneira que o nosso, com as mesmas substâncias, talvez em abundâncias ligeiramente diferentes, mas nada que resulte em situações extremas como a hipótese que sugere que planetas gigantes tenham a tendência a se formar ao redor de estrelas mais metálicas que o Sol.

Devemos tomar cuidado com o que lemos na internet, pois jornalista não é cientista, e nem tem a obrigação de ser, e astrônomos às vezes são mal interpretados.


Periélio do cometa Machholz 1 registrado através da câmera C3
do satélite SOHO da NASA/ESA.

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