O padrão de azulejos combina o modelo atômico de Rutherford com temas florais, típicos da decoração de muitas casas antigas de Salvador. Esses azulejos embelezam uma loja de molduras na Rua Carlos Gomes, no centro da cidade. Notei esse tema peculiar pela primeira vez há 20 anos, durante minha última visita ao local. Registro realizado em 07/01/2025.
terça-feira, 7 de janeiro de 2025
domingo, 5 de fevereiro de 2023
A Composição Química do Cometa 96P/Machholz: Podemos Confiar em Tudo o Que Lemos na Internet?
Diversos canais de divulgação científica na internet aventaram duas hipóteses para explicar por que o cometa Machholz 1 apresenta abundâncias de cianogênio e carbono abaixo das encontradas em uma amostra homogênea, criada e atualizada há décadas por pesquisadores do Lowell Observatory (EUA). A primeira hipótese é que o cometa se formou em uma região diferente do sistema solar em relação àquela onde a maioria dos cometas da amostra surgiu. Esta hipótese deve ser avaliada com cautela, pois sempre existe a possibilidade de viés observacional na nossa amostra. Tal viés pode estar associado à escolha dos objetos: astrônomos tendem a observar objetos mais brilhantes, uma vez que isso melhora a qualidade dos registros. A hipótese alternativa é que o cometa Machholz 1 tenha origem interestelar, ou seja, que tenha vindo de fora do sistema solar. Embora esta segunda hipótese seja intrigante, ela é altamente especulativa, uma vez que é muito difícil inferir a origem interestelar de um cometa periódico, como o Machholz 1, apenas com base em sua órbita atual. Além disso, sistemas exoplanetários são muito provavelmente formados de maneira semelhante ao nosso, com as mesmas substâncias, talvez em abundâncias ligeiramente diferentes, mas nada que resulte em situações extremas como a hipótese que sugere que planetas gigantes tendem a se formar ao redor de estrelas mais metálicas que o Sol.
Devemos ter cuidado com o que lemos na internet, pois jornalistas não são cientistas e não têm a obrigação de ser, e astrônomos às vezes podem ser mal interpretados.
sábado, 17 de dezembro de 2022
Minha Vivência com o Colonialismo Cultural na Ciência
Esta postagem é uma forma de catarse e também um registro para futuras gerações de cientistas brasileiros. Em 15 de dezembro de 2022, enviei uma short communication para o "The Astronomer's Telegram" (Atel), com base em dados de dois asteroides próximos à Terra que eu havia observado em 2013 e 2014. Dados sobre esses objetos já haviam sido publicados no Atel, o que me levou a considerar razoável divulgar meus resultados nesse canal, apesar do tempo decorrido.
No dia seguinte, fiquei surpreso ao receber um e-mail de um pesquisador do INAF/IAPS, em Roma (Itália). O pesquisador expressou surpresa ao ver um telegrama com observações realizadas há quase 10 anos, ressaltando que o Atel foi concebido para divulgar observações novas, eventos transitórios ou requisições de acompanhamento, e não confirmações de observações já divulgadas. O pesquisador também enviou uma cópia do seu e-mail para o editor do Atel. Respondi ao pesquisador romano afirmando que dados não processados e publicados não contribuem para a ciência e que a confirmação faz parte da prática científica.
Uma rápida pesquisa no Google revelou que o pesquisador romano é um senhor de idade, o que presumo estar associado à sabedoria e ao bom senso, e que trabalha há décadas com astrofísica de estrelas variáveis e de altas energias. O pesquisador começou a publicar em 1973, ano em que nasci!
Ciência sem confirmação não é ciência. A moderna sede do INAF/IAPS está a poucos quilômetros do Colégio Romano, onde, quatrocentos anos antes do e-mail do pesquisador romano, as luas de Júpiter foram observadas por padres e professores desta instituição, confirmando a descoberta de Galileo.
A pergunta que fica é: por que o pesquisador romano ignora o básico do método científico? Uma hipótese é que o colonialismo cultural possa estar em jogo. A Europa, ao colonizar brutalmente as Américas, África e Ásia, impôs uma pretensa superioridade moral e intelectual sobre os colonizados. Acredito que o pesquisador romano possa ter se autoinvestido dessa autoridade para julgar o que pode ou não ser publicado em um canal que ele não criou e com o qual não tem vínculo formal. Paradoxalmente, o pesquisador está ligado a um grupo da IAU que preserva dados astronômicos históricos.
Concluo que, com quase 50 anos de idade e um pós-doutorado, sofri bullying de um senhor com mais de 70 anos, residente do outro lado do Atlântico, com quem não tenho vínculo e que não trabalha na minha área de pesquisa.
Será que ele teria enviado um e-mail dessa natureza a um pesquisador de uma nação do norte global? Ele abreviaria "doutor" com "d" minúsculo? Será que ele sabe que tenho um artigo publicado na revista da Accademia Nazionale delle Scienze detta dei XL?
Enviei a resposta ao pesquisador há mais de 24 horas e ainda não recebi retorno. O editor também não entrou em contato. Não perdi minhas credenciais para postar no Atel. O mais interessante é que não publicava nada desde 2015!
Meu conselho? Não abaixe a cabeça para pesquisadores estrangeiros, por mais renomados que sejam. Estar formado em universidades europeias ou nos EUA não implica automaticamente ser um pesquisador excepcional e competente. Opine e critique. Suas ideias podem ser superiores às desses pesquisadores. Muitos são extremamente conservadores e mantêm a mesma linha de pesquisa do doutorado por toda a carreira, produzindo o conhecido "feijão-com-arroz". Frequentemente, eles têm um número elevado de publicações em revistas de impacto devido ao trabalho em grandes grupos. Já encontrei pesquisadores com milhares de citações no Google que não são primeiros autores em artigos há anos. Ah! Eles também erram. Em 2022, o pesquisador romano confundiu um pixel quente em uma imagem CCD com um outburst em um quasar.
Já me deparei com pareceristas de artigos sobre meteoros que claramente não dominavam conceitos básicos de estatística e probabilidade, que ensino a alunos do primeiro semestre da UFRB, e que alegaram que eu não os utilizava corretamente. Esses pareceres continham expressões populares ou sarcásticas como "laranjas e maçãs" ou "santo graal", que o editor da revista irresponsavelmente deixou passar.
Não foi a primeira vez que tive problemas na interação com pesquisadores italianos. Posso discutir isso em uma futura postagem, se achar pertinente.
Considerei esta situação tão vexatória que resolvi ocultar o nome do autor do e-mail, referindo-me a ele como "pesquisador" ou "pesquisador romano" ao longo do texto. Aprendi com minha família a ter respeito por pessoas mais velhas e, como cientista, a admirar a carreira de terceiros.
Abaixo reproduzo a sequência de e-mails:
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Dear dr. Betzler, I was rather surprised to see in your ATel #15812 the
report of observations made nearly ten years ago! I was convinced that
ATels are supposed to be used to communicate new or very recent
observations to help follow-up by other observers, not to confirm old
observations already published on ATel at due time.
Sincerely yours
xxxxxx
--
Associated Researcher at INAF/IAPS-Roma, Italy
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Dear Dr. xxxx,
Thank you for your email and your observations. However, I must remind you that there are thousands of gigabytes of data on our personal hard drives and in the observatories' public storage. If these data are not processed and published, they do not contribute to the development of science, and confirmation is an important part of that.
Sincerely
Alberto S. Betzler
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sexta-feira, 4 de novembro de 2022
Um belo gráfico
domingo, 28 de novembro de 2021
Imagens Urbanas Curiosas
Algumas fotos obtidas com câmeras de telefones celulares nas ruas de Salvador e no interior da Bahia.
Amargosa - 2016: "Um Gol dentro do gol". |
Rua São José de Cima - 20-08-2019 |
Rua Professor Viegas - 26-10-2019 |
Rua Professor Alfredo Rocha - 01-11-2019 |
Rua dos Perdões - 04-11-2019 |
Avenida Jequitáia - 25-11-2019 |
quarta-feira, 25 de dezembro de 2019
O Astrônomo Leu "O Primeiro Homem: A vida de Neil Armstrong"
Não escrevo uma pequena resenha sobre um livro que terminei de ler há alguns anos. A motivação para ler "O Primeiro Homem: A Vida de Neil Armstrong" (Editora Intrínseca, 2018) foi ter assistido ao excelente filme "O Primeiro Homem". O livro, escrito por James R. Hansen, professor de história da Universidade de Auburn (Alabama, EUA), é a biografia oficial do primeiro homem a pisar na Lua, Neil Alden Armstrong, e é baseado em entrevistas do autor com o astronauta, pessoas próximas ligadas ao programa espacial e documentação audiovisual.
O que percebi claramente é que, muito provavelmente, Hansen se tornou um admirador do objeto de seu trabalho. Aparentemente, o autor perdeu a isenção necessária para escrever uma obra desta natureza. O autor faz longos e desnecessários comentários sobre situações particulares da vida de Armstrong que, em minha opinião, se assemelham a fofocas. Exemplos incluem a descrição da pressão que Buzz Aldrin e seu pai teriam feito para que Buzz fosse o "primeiro homem"; o pedido de divórcio de Janet, a primeira esposa de Neil, por "não compreendê-lo ainda"; as características quase divinas de Neil descritas por um repórter numa coletiva de imprensa antes da missão Apollo 11; e a opinião de Donald Slayton, chefe de operações de voo e do departamento de astronautas, sobre o excesso de fotografias de Buzz obtidas na superfície lunar. Com esta ressalva em mente, torna-se complicado considerar a personalidade de Neil Armstrong traçada pelo autor como inteiramente fidedigna.
De qualquer forma, a leitura me permitiu concluir que Armstrong era extremamente focado no trabalho, sério, responsável e uma pessoa de poucas e precisas palavras. Neil era um excelente piloto naval, com grande experiência em atividades embarcadas e na condução de veículos experimentais, como o X-15. Talvez essas características tenham sido decisivas para sua escolha como comandante da missão. O sangue-frio de Armstrong ajudou a orientar Buzz na decisão de ignorar o piloto automático do módulo lunar, evitando o pouso em uma área pedregosa do Mar da Tranquilidade. Também fica claro que a missão foi bem-sucedida por combinar uma tripulação extremamente bem treinada com o limite máximo da tecnologia disponível na segunda metade da década de 1960.
Leitura altamente recomendada para quem deseja entender melhor a história inicial do programa espacial dos Estados Unidos.
Capa do livro. |
quarta-feira, 18 de dezembro de 2019
Documento Especial - Ufologia
sábado, 3 de agosto de 2019
"Planform view" de Aeronaves
P-3AM - Força Aérea Brasileira -03-08-2019 UT. |
EMB-190/195 - Azul Linhas Aéreas Brasileiras- 13-07-2019 UT |
segunda-feira, 22 de julho de 2019
Chandrayaan-2
Uma pergunta pertinente é: por que a Índia conseguiu feitos desta magnitude e nós, no Brasil, não? Índia e Brasil possuíam programas espaciais em níveis comparáveis de desenvolvimento no início dos anos 1980. Justificativas simplistas para o hiato atual podem estar associadas à aplicabilidade do programa de foguetes indiano:
Necessidades militares: A Índia e o Paquistão estão em estado permanente de tensão desde 1947. Ambos os países possuem armas nucleares, e os foguetes são uma ferramenta eficiente para a entrega dessas armas.
"Soft power": As conquistas do programa espacial demonstram ao mundo a independência científica e tecnológica do país, reforçando a autoestima nacional.
Abaixo, apresento um vídeo do lançamento da sonda Chandrayaan-2.
Se tivéssemos lançado nosso primeiro satélite utilizando meios próprios na década de 1990, com um financiamento constante, poderíamos ter dezenas de satélites em órbita e, provavelmente, estaríamos lançando sondas espaciais para a Lua ou Marte nos dias de hoje.
Espero ainda ver o Brasil integrando o seleto grupo de nações que explora a "fronteira final", algo que certamente ajudaria a superar o complexo crônico de inferioridade que, infelizmente, domina o imaginário de boa parte dos brasileiros.
quarta-feira, 13 de junho de 2018
A ciência que eu faço - Jair Barroso Junior
A sexta parte do excelente depoimento do ex-astrônomo do Observatório Nacional (ON), Jair Barroso Junior, oferece uma rica reflexão. O Sr. Barroso é bacharel em Física pela Universidade do Estado da Guanabara (1959) e foi um dos primeiros mestres em Astronomia formados no Brasil. Ele concluiu seu mestrado no Instituto de Tecnologia da Aeronáutica (ITA) em 1971, com uma dissertação que aborda o estudo de sistemas estelares binários cerrados. Os dados observacionais para esse estudo foram obtidos através de um telescópio refletor Cassegrain-Newtoniano de 0,5 m de abertura, construído no próprio ITA.
Outro trabalho interessante realizado pelo Sr. Barroso foi a utilização de um "fotômetro de cunha", acoplado à luneta de 32 cm do ON, para determinar o período de oscilação de brilho da estrela variável CY Aquarii, em 1969.
Este depoimento é uma verdadeira lição de vida para uma parcela significativa de jovens cientistas e professores de instituições públicas brasileiras, que, infelizmente, parecem estar mais preocupados com suas agendas pessoais.
sexta-feira, 1 de junho de 2018
Intervenção Extraterrestre Já!
Seleção de trailers de filmes e séries de Hollywood que tratam do contato de criaturas e civilizações extraterrestres com a humanidade. O tipo de contato foi dividido em "benignos", "malignos" ou "Ah! Ah! Enganei vocês!", quando as intenções benignas eram apenas um embuste para um plano de dominação do planeta Terra.
Muitos desejam que já tenhamos contato com uma civilização extraterrestre tecnologicamente avançada. O argumento usado é que isso poderia nos fazer evoluir mais rapidamente, fazendo com que esqueçamos nossas "pequenezas". Entretanto, neste momento de nossa história, isso seria realmente benéfico para nossa espécie? O passado nos mostra que uma solução miraculosa, proposta ou desejada por um determinado grupo, pode não ser a melhor para toda a coletividade.
*Sequestrar pessoas e libertá-las 20 ou 30 anos depois, sem explicar a motivação, não é uma coisa boa na Terra nem na estranha exolua de Pandora.** Lendo "2010" e "3001", percebi que os ETs que construíram os monólitos eram um tanto radicais em seu objetivo de semear "vida inteligente" pela galáxia. Neste caso, a série "2001" poderia estar na categoria "Ah! Ah! Enganei vocês! :)".
quinta-feira, 24 de maio de 2018
Navio dos Tolos
Ilustração do artista Albrecht Dürer em Stultifera navis ("Navio dos Tolos") de Sebastian Brant, publicado por Johann Bergmann von Olpe (de), na Basiléia, em 1498. |
Algo óbvio que aprendi na vida é que a maioria das situações que vivemos é resultado de nossos atos pregressos. Em relação à política, podemos fazer uma extrapolação e concluir o mesmo: um governo antipovo é o resultado de escolhas impensadas por parte da maioria da população. Não devemos simplesmente votar por obrigação; devemos escolher nossos representantes de forma consciente, sempre lembrando que não devemos eleger alguém sem um compromisso prévio com a população. Nossos representantes devem trabalhar para o bem-estar da maioria, e qualquer pensamento diferente disso é insensato diante da condição que justifica a existência de um governo constituído.
Baseado no binômio responsabilidade-culpa mencionado no início deste texto, sugiro uma pequena autorreflexão: será que o caro leitor não é tão imprudente quanto este ou aquele membro de um dos poderes da república que você critica e, igualmente, abusa de suas efêmeras atribuições por motivações pessoais? Pense nisso.
quinta-feira, 19 de abril de 2018
Artigo sobre William Herschel
sexta-feira, 29 de dezembro de 2017
Powerpoint do Cometa Halley
Afirmo que o cometa Halley é um fator importante no despertar do interesse da humanidade pelo estudo destes objetos. Chego a essa conclusão com base na grande dimensão de seu núcleo e na pequena distância à Terra, que resultam em seu notável brilho no céu.
Utilizei evidências empíricas para chegar a essa conclusão, e não convicções.
quinta-feira, 21 de dezembro de 2017
Teen Titans explicam como dominar o mundo (sem dar um tiro!)
domingo, 17 de dezembro de 2017
Uma notícia de jornal
Acredito que muitos dos cidadãos da cidade de Monte Alto (BA) faleceram sem saber qual cometa estavam observando. Com a ajuda da internet, foi possível conjecturar que o objeto era muito provavelmente o cometa C/1915 C1, descoberto pelo astrônomo amador e construtor de telescópios estadunidense John E. Mellish.
É interessante notar a comparação morfológica com o 1P/Halley feita por esses observadores, cujo esplendor de maio de 1910 devia estar vivo na memória de todos. A associação ao cometa Biela feita pelo autor da nota é compreensível. O cometa Biela não foi tão brilhante quanto o Halley ou o Mellish, mas foi o primeiro a apresentar um impressionante processo de fragmentação do núcleo em 1845, o qual foi extensivamente estudado por diversos observadores ao redor do mundo. O cometa Mellish apresentou um processo similar quando se aproximou do Sol.
domingo, 3 de dezembro de 2017
Big, Bigger, Biggest - Telescópio
Interessante programa da série britânica "Big, Bigger, Biggest" do National Geographic Channel sobre telescópios. Este episódio mostra seis avanços tecnológicos que possibilitaram a construção de telescópios de última geração, como o Large Binocular Telescope (LBT). Considero o capítulo bem didático por mostrar a interação da luz com as superfícies ópticas e o meio ambiente através de experimentos. Outro ponto alto do programa são as curiosidades sobre a construção de alguns telescópios, como as modificações feitas no vagão de ferrovia que transportou o espelho do telescópio Hale de Nova York até a Califórnia, e sua inusitada caixa blindada contra ataques de fundamentalistas religiosos.
Só não concordei com a contribuição vinculada ao telescópio soviético BTA-6. No programa, esta contribuição foi limitada ao sistema de equalização da temperatura da cúpula. O que foi esquecido é que o BTA foi o primeiro telescópio altazimutal de grande porte com apontamento computadorizado. O LBT beneficiou-se desse desenvolvimento tecnológico.
quinta-feira, 4 de setembro de 2014
sábado, 26 de julho de 2014
Ronaldo Rogério de Freitas Mourão (1935-2014)
segunda-feira, 23 de junho de 2014
O astrônomo leu "No Reino dos Astrônomos Cegos"
i) Nos capítulos 1 a 9, o autor faz uma excelente apresentação da história da radioastronomia, abordando a correlação entre a evolução instrumental e conceitual que permitiu caracterizar as fontes detectadas no céu. Para isso, o autor associa essa evolução essencialmente às pesquisas realizadas no Reino Unido (e na Austrália) e nos EUA. Não questiono a escolha dessa linha do tempo, que é a mais fartamente documentada, e é inegável que pesquisadores desses países tiveram um papel decisivo na evolução da radioastronomia. Suas descobertas mudaram nossa visão do cosmos. Entretanto, esperava encontrar alguns trechos sobre a história da radioastronomia na URSS e no Japão. O desenvolvimento desta ciência nesses dois países é pouco conhecido até por profissionais da área. No caso da URSS, há apenas algumas passagens, como a menção a um satélite científico soviético lançado para estudar a anisotropia na radiação de fundo cósmico, alguns anos antes do COBE. A URSS não teria um programa espacial tão significativo sem uma rede de radiotelescópios para comunicação interplanetária. Esses instrumentos tinham uso dual. Em relação ao Japão, o livro menciona apenas que um survey da Via Láctea, na banda do gás monóxido de carbono, frustrou um projeto equivalente que seria realizado por pesquisadores do IAG.
ii) O autor se esforça para explicar conceitos físicos que não são triviais, como a emissão de 21 cm do hidrogênio. Não há erros, mas percebi que o autor se deteve muito, talvez de forma desnecessária, na descrição da geração dessa radiação (seis páginas usando enfoques ligeiramente diferentes).
iii) Uma brilhante descrição da evolução da radioastronomia brasileira é feita nos capítulos 10 a 16. Como bom contador de histórias, o autor descreve de maneira fluida e atraente como a radioastronomia brasileira nasceu a partir de um grupo de entusiastas no final da década de 1950, atingindo seu ápice cerca de 10 a 15 anos depois. Essa descrição é feita a partir de entrevistas com os protagonistas, o que pode representar uma visão mais fidedigna dos fatos. O livro se encerra de maneira igualmente interessante, sugerindo as origens dos altos e baixos da radioastronomia em nosso país.
Recomendo a leitura para quem deseja entender a razão pela qual é tão difícil fazer ciência de qualidade e competitiva no Brasil.
Capa do livro - Galáxia NGC-5128, uma excepcional
radiofonte do hemisfério sul celeste.
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