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sábado, 25 de março de 2023

Hercóbulus

Ciência e Misticismo

A crença na existência de um corpo celeste denominado Hercóbulus (ou Hercólubus) é comum em certos meios esotéricos e pseudocientíficos. Contudo, não há qualquer evidência astronômica que comprove sua existência ou aproximação da Terra.

Em 1984, astrônomos dos Estados Unidos propuseram uma hipótese para explicar extinções em massa aparentemente periódicas nos registros fósseis, com ciclos de cerca de 26 a 30 milhões de anos. A explicação envolvia a existência de uma estrela anã vermelha ou marrom, denominada Nêmesis, orbitando o Sol em uma órbita altamente excêntrica, com semieixo maior de aproximadamente 90.000 unidades astronômicas (U.A., 1,4 anos-luz). Ao atingir o periélio, essa estrela atravessaria a Nuvem de Oort, perturbando gravitacionalmente cometas e lançando alguns para o interior do Sistema Solar, aumentando a chance de colisões com a Terra.

Essa hipótese jamais foi confirmada. O satélite IRAS fez uma varredura do céu em infravermelho, onde um objeto frio como Nêmesis seria mais facilmente detectável, mas não encontrou candidatos compatíveis. Ainda assim, a ideia foi distorcida por autores esotéricos, que transformaram a estrela em um planeta ou cometa ameaçador e sugeriram que sua existência é ocultada por astrônomos.

Um exemplo real de anã vermelha próxima é DENIS-P J104814.7−395606.1, descoberta na pesquisa infravermelha DENIS, no Chile. Com mais de 60 massas de Júpiter, ela está a 13 anos-luz da Terra. Sua detecção reforça que, se existisse um corpo como Nêmesis a 1,4 anos-luz, ele já teria sido facilmente identificado. Portanto, a ausência de tal detecção é uma forte evidência contra sua existência.

Não há registros na literatura científica que sustentem a existência do chamado Hercóbulus. A hipótese carece de fundamentos observacionais e viola princípios fundamentais da astrofísica, como detecção por paralaxe, brilho aparente e coerência orbital. Trata-se de um conceito místico, e não científico.

Nota: O catálogo Gaia fornece dados precisos sobre bilhões de estrelas, permitindo excluir a presença de objetos massivos não detectados até centenas de U.A., com base em suas perturbações no movimento estelar.


Nuvem de Oort e o Cinturão de Kuiper

Nuvem de Oort-Öpik e órbitas elípticas, parabólicas e hiperbólicas de alguns hipotéticos cometas. Fonte: Bergamini, D.:1970 In, O Universo, Biblioteca da Natureza Life, Livraria José Olympio Editora, Rio de Janeiro, P.69

Durante as primeiras décadas do século XX, diversos pesquisadores investigaram as perturbações gravitacionais planetárias sobre as órbitas de corpos do Sistema Solar, como asteroides e cometas. Esses estudos levaram ao desenvolvimento das primeiras ideias sobre a distribuição estatística dos parâmetros orbitais desses corpos.

Strömgrem (1914, 1947) demonstrou que as órbitas hiperbólicas dos cometas (1/aorig < 0, onde  aorig é o semi-eixo maior da órbita do objeto antes de entrar na região planetária do Sistema Solar) não eram as originais quando esses corpos entraram no Sistema Solar, mas o resultado da interação gravitacional com os planetas.

Sinding (1948) determinou valores de 1/aorig<01/a_{\text{orig}} < 0 para vinte e um cometas de longo período. Esses resultados, juntamente com o trabalho de Van Woerkom (1948), formaram a base para o trabalho de Oort (1950) sobre a existência de um reservatório de cometas além dos limites do Sistema Solar. A teoria de uma hipotética nuvem de cometas distantes, com trajetórias estáveis frente a perturbações estelares, foi formulada por Öpik em 1932, antes de Oort.

Oort deduziu a existência desta nuvem com base no grande número de cometas de longo período com 1/aorig<104U.A.11/a_{\text{orig}} < 10^{-4} \, \text{U.A.}^{-1} dentro de uma amostra de dezenove cometas. Seus afélios estariam a pelo menos 200.000 U.A. do Sol. Oort concluiu que haveriam órbitas estáveis a aproximadamente 200.000 U.A., as quais poderiam ser perturbadas por passagens estelares próximas. Admitindo que as passagens estelares poderiam tornar randômica a distribuição orbital da nuvem e considerando a idade do sistema solar, a nuvem poderia conter cerca de 2×10112 \times 10^{11} cometas. Com uma massa cometária média da ordem de 1013kg10^{13} \, \text{kg}, a massa total da nuvem seria de aproximadamente 0,3 massas terrestres ou 2×1024kg2 \times 10^{24} \, \text{kg}.

De acordo com a teoria da difusão orbital de Van Woerkom (1948) para as perturbações planetárias, o número de cometas com 1/aorig<104U.A.11/a_{\text{orig}} < 10^{-4} \, \text{U.A.}^{-1} deveria ser maior do que o observado. Em resposta, Oort e Schmidt (1951) sugeriram que muitos cometas poderiam não ser facilmente descobertos em suas primeiras passagens pelo Sistema Solar interior devido às suas grandes distâncias de periélio e consequentemente baixo brilho. Esse trabalho originou o conceito de cometas novos (brilhantes devido à grande produção de poeira e gás e originários da Nuvem de Oort) e cometas velhos (pouco brilhantes devido à baixa produção de poeira e gás e com órbitas elípticas com períodos orbitais curtos).

Imagem CCD do centauro (2060) Chiron (círculo verde) obtida em 05/05/1999 no Observatório do Pico-dos-Dias (Brasópolis, Minas Gerais). Este objeto, que orbita entre Saturno e Urano, foi provavelmente um membro do cinturão de Edgeworth-Kuiper, colocado nesta órbita mais próxima do Sol devido a perturbações gravitacionais de Netuno ou Urano.

 


Referências

Betzler, A. S.: 1998, in Um estudo dos cometas Hale-Bopp e Chiron, Projeto de Final de Curso para a Obtenção do Título de Astrônomo, UFRJ-CCMN/Departamento de Astronomia, Rio de Janeiro, p. 18, 30

Edgeworth, K.E.: 1949, MNRAS 109, 600.

Fenandez, J.: 1980, MNRAS 192, 481

Jewitt, D. & Luu, J.: 1993, Nature 362, 730

Kuiper, G.P.: 1951, in Astrophisics: A Topical Symposium, J.A . Hynek ed. McGraw Hill, N.Y., 357

Oort, J.H.: 1950, Bull. Astron. Inst. Netherl. 11, 91

Oort, J.H. & Schmidt, M.: 1951, Bull. Astron. Inst. Netherl. 11, 259

Öpik, E.J.: 1932, Proc. Amer. Acad. Astr. Sci. 67, 199
Sagan, C & Druyan, A. : 1985, in Cometa, Livraria Francisco Alves Editora S.A.,p.300-301

Strömgrem, E.: 1914, Publ. Obs. Compenhagen 19,

Strömgrem, E.: 1947, Publ. Obs. Compenhagen 144,

Van Woerkom, A . J. J.: 1948, Bull. Astron. Inst. Netherl. 10, 445

quarta-feira, 18 de abril de 2018

TCC de Alberto Silva Betzler

Em 30 de outubro de 1998, defendi meu Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) em Astronomia na UFRJ. Este TCC trata da análise de dados fotométricos do centauro (2060) Chiron e do cometa C/1995 O1 (Hale-Bopp), estando associado a três artigos publicados em periódicos internacionais. O capítulo 2 apresentou o estudo de três ocultações estelares pela coma do cometa Hale-Bopp, registradas em junho de 1996, no Observatório do Pico dos Dias (Minas Gerais). Esses resultados foram publicados apenas em 2017, ou seja, 19 anos após a apresentação de meu TCC.

Como forma de comemorar meus 20 anos de carreira e para auxiliar estudantes que se encontrem em situação semelhante, disponibilizo meu TCC para download neste link.


Observatório do Valongo, sede do curso de 
astronomia da UFRJ. Fonte: Wikipedia.

sábado, 19 de janeiro de 2013

Centauro (2060) Chiron e o cometa C/1999 H1 (Lee)

Imagens CCD do centauro (2060) Chiron (círculo verde) e do cometa C/1999 H1 (Lee), obtidas em 05-05-1999 UT com o telescópio IAG de 0,6 m do OPD, por Jorge Carvano, do Observatório Nacional. As imagens foram criadas com o programa SAOimage.

Minhas contribuições no estudo deste interessante centauro podem ser encontradas neste link.

A imagem do cometa Lee apresenta um filamento de aspecto gasoso que não é visível no campo obtido pelo Digital Sky Survey para esta região do céu, com ascensão reta 09h 42m 37.153s e declinação -41° 13' 17.214".



quinta-feira, 15 de dezembro de 2011

(2060) Chiron

Telescópio Boller & Chivens de 0,60 m do LNA apontado para o centauro (2060) Chiron. O objeto não é visível na imagem. Astrofotografia obtida em 1995 com uma câmera Zenit 12XS, 10 minutos de exposição e filme Kodak ASA 100. Os dados coletados nesta observação foram utilizados no artigo "2060 Chiron: Back to a Minimum of Brightness", de 1996.


Minha Vivência com o Colonialismo Cultural na Ciência

  Esta postagem tem um caráter de reflexão e registro para futuras gerações de cientistas brasileiros. Em 15 de dezembro de 2022, enviei uma...