segunda-feira, 30 de janeiro de 2012

Giotto e o 1P/Halley

Vídeo da Agência Espacial Europeia (ESA) comemorando os 25 anos do encontro da sonda Giotto com o cometa Halley. A nave se aproximou a cerca de 600 km do núcleo do cometa em 14 de março de 1986 (UT). Essa distância mínima só foi alcançada graças à astrometria precisa fornecida pelas sondas soviéticas VEGA-1 e VEGA-2, demonstrando, de forma inequívoca, o sucesso de uma colaboração científica entre a URSS e os países europeus — um exemplo notável de cooperação internacional em plena Guerra Fria, contrastando com os entraves geopolíticos atuais, que infelizmente têm afetado até colaborações científicas.

Embora a Giotto estivesse equipada com um escudo Whipple para proteção contra partículas de poeira, ela sofreu dois impactos severos de grãos em hipervelocidade. O primeiro causou a perda temporária da orientação da nave por mais de 30 minutos. O segundo destruiu sua câmera CCD, impedindo novas imagens — felizmente, isso ocorreu após o registro do núcleo do cometa.

Em 1992, após manobras orbitais complexas, a Giotto realizou um segundo encontro, desta vez com o cometa Grigg–Skjellerup, aproximando-se a cerca de 200 km do núcleo. Durante esse sobrevoo, a nave conduziu diversas medições do ambiente cometário, incluindo contagem de grãos de poeira, análise do campo magnético e outros parâmetros relevantes.

Comparadas às imagens de núcleos cometários obtidas por missões mais recentes, as da Giotto podem parecer modestas em qualidade. No entanto, do ponto de vista científico, foram extraordinariamente valiosas. Elas confirmaram o modelo da "bola de neve suja" proposto por Fred Whipple e revelaram que os núcleos cometários não são inteiramente ativos. No caso do cometa Halley, cerca de 10% da superfície estava ativa, emitindo gás e poeira.

Lembro-me do impacto que essas imagens, mesmo borradas, causaram quando foram exibidas no Jornal Nacional. Naquela época, havia uma antena parabólica instalada no Observatório Nacional, no Rio de Janeiro, que recebia diretamente os sinais do centro de controle da Giotto, permitindo a transmissão das imagens aos astrônomos e ao público em tempo quase real.




domingo, 29 de janeiro de 2012

Astrofotografias com meu newtoniano - (1)

Algumas astrofotografias da Lua que obtive com meu telescópio na segunda metade da década de 1990. Todas as imagens foram capturadas utilizando filme ASA 100, seguindo o mesmo procedimento. Para isso, removi a lente da minha câmera Zenit 12XS e ajustei o foco aproximando ou afastando o corpo da câmera da ocular/focalizador. O tempo de exposição foi de 1/30s, visando minimizar trepidações.







Fotografia de projeção com 360X de aumento. Quase no centro, as cordilheiras dos
Montes Apenninus (em cima) e Montes Caucasus (em baixo)


sábado, 28 de janeiro de 2012

Terry Lovejoy, um caçador de cometas de nosso tempo

Curva de luz do cometa C/2007 E2 (Lovejoy)

Terry Lovejoy é um engenheiro de TI australiano cujo interesse por astronomia começou cedo, assim como o meu. Como astrônomo amador, destacou-se na busca de cometas, sendo um dos pioneiros na detecção de cometas rasantes solares em imagens do satélite SOHO. Utilizando telescópios de grande campo com câmeras CCD, descobriu, entre outros, os cometas C/2007 E2 e C/2011 W3, ambos observados por mim.

Durante uma noite de observação do cometa C/2007 E2 (Lovejoy), obtive uma curva de luz diferencial com amplitude significativa, acima do nível de ruído fotométrico. Como não houve registro de outbursts no período, interpreto a modulação observada como resultado da rotação do núcleo, com zonas ativas sendo alternadamente expostas à visão da Terra.

Apesar da aparente precisão na estimativa do período rotacional (7,12 ± 0,01 horas), a cobertura de fase é claramente incompleta, concentrando-se principalmente no intervalo entre 0,00 e 0,35. Isso limita a robustez da solução e requer cautela na interpretação dos resultados. O astrônomo F. Manzini também analisou esse objeto e obteve uma curva de luz alternativa, disponível nos arquivos do CdR & CdL, com periodicidade semelhante e cobertura de fase mais completa.

(1) Curva de Luz de C/2007 E2. O período de rotação estimado não tem significância
 estatística. A duração das observações foi muito curta.



Vídeo informativo de alta qualidade estética do site de divulgação de
 física solar "The Sun Today" sobre o C/2011 W3

quinta-feira, 26 de janeiro de 2012

Meu primeiro telescópio

Meu primeiro telescópio foi um refletor newtoniano de 0,3 m f/6, adquirido em 1987 do construtor Aguirre, quando eu tinha 14 anos. Parte do valor foi obtida com a venda de um telescópio newtoniano de 0,18 m f/8, que eu havia montado durante o curso de construção de telescópios do Museu de Astronomia do Rio de Janeiro.

Na configuração original, o telescópio de 0,3 m possuía uma rígida montagem equatorial germânica e pesava mais de 100 kg. Em 1995, ele foi reconstruído pelo construtor Leonel Vianello, de Araraquara (SP). Apenas o espelho primário foi reaproveitado. Apesar de ter apenas uma polegada de espessura, a parábola manteve sua forma mesmo com variações na posição do tubo, o que surpreendeu o Sr. Leonel. Na nova configuração, o telescópio passou a contar com uma montagem altazimutal dobsoniana.

Utilizei esse telescópio para observar os cometas Hale-Bopp e Hyakutake no Rio de Janeiro, entre 1995 e 1996. Já em Salvador, ele foi empregado em diversas sessões de observação pública. A mais marcante ocorreu em agosto de 2003, durante a excepcional aproximação de Marte à Terra. Mais de mil pessoas observaram o planeta através desse telescópio, no antigo Shopping Aeroclube.

Atualmente, o telescópio está desmontado e devidamente armazenado na casa de minha sogra. Abaixo, algumas fotos da segunda metade da década de 1990:





SN - 26 de Setembro de 2002 - Edicao No. 170
Como uma homenagem a memória de Leonel Vianello, no ano em que se completam dez anos de seu falecimento, reproduzo o Boletim Supernovas que reporta a passagem deste excepcional profissional:

SUPERNOVAS - BOLETIM BRASILEIRO DE ASTRONOMIA - 

http://www.supernovas.cjb.net


26 de Setembro de 2002 - Edicao No. 170


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ATRAVES DA OCULAR

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MORRE UM DOS MAIS CONHECIDOS CONSTRUTORES DE TELESCÓPIOS NO BRASIL
Faleceu na sexta-feira, 20 de setembro, aos 74 anos de idade Leonel  Vianello (1927-2002); de morte natural. Nascido no dia 10 de outubro  de 1927, Vianello era construtor de telescópios astronomicos, fotografo profissional e morava no interior de Sao Paulo, em  Araraquara/SP. Leonel dedicou boa parte de sua vida a essa rara arte  de construir artesanalmente instrumentos ópticos de grande precisao, como também montagens, oculares, aranhas, focalizadores e pequenas  lunetas. Alem de um grande construtor, Leonel era "de um  comportamento exemplar e correto sobre as coisas e preocupado com a qualidade de seus produtos", afirmou Weber Amadeus, amigo, aprendiz e  também construtor de telescópios na cidade de Araraquara/SP. Leonel  fabricou mais de 500 telescópios de tamanhos variados que hoje estão  espalhados por praticamente todo território nacional. "O Leonel  deixou a marca dele no Brasil", afirmou Roberto Silvestre, que possui  um observatório em sua propria casa na cidade de Uberlândia/MG, onde  esta' instalado um telescópio newtoniano construido por Vianello. "Foi uma grande perda", concluiu o amigo. Leonel mantinha  seu site na internet mas foi desativado (http://www.leonelvianello.com.br ). O Boletim Supernovas prestou sua  homenagem a esse grande construtor brasileiro, cujo os telescopios  abriram e ainda abrem as janelas do Universo para incontaveis  observadores todo dia. Ver em: http://www.geocities.com/cadu-mg/homenagembsn.htm
(Agradecimentos especiais à familia e amigos)
Carlos Eduardo - Editor Boletim Supernovas

UMA GRANDE PERDA
"O Brasil perde um dos maiores colaboradores da Astronomia amadora do pais."
Weber Amadeus, construtor de telescópios e grande amigo de Leonel 
Vianello, Araraquara-SP

quarta-feira, 25 de janeiro de 2012

Longa exposição do céu austral

Fotografia de longa exposição (>1h) da região polar celeste sul. A imagem foi capturada em 1996, utilizando uma câmera Zenit 12XS e filme de 100 ASA, no Observatório do Pico dos Dias. Na fotografia, observa-se uma mancha escura (indicada pela seta), que é associada à Nebulosa do Saco de Carvão, localizada na constelação do Cruzeiro do Sul. Adicionalmente, um traço retilíneo e fraco, quase ortogonal aos traços das estrelas, pode ser visto sobre a nebulosa. Este traço é possivelmente causado por um meteoro esporádico.


Minha Vivência com o Colonialismo Cultural na Ciência

  Esta postagem tem um caráter de reflexão e registro para futuras gerações de cientistas brasileiros. Em 15 de dezembro de 2022, enviei uma...