domingo, 18 de maio de 2014

Asteroides 315, 58.547 e 166.382: Um Encontro no Céu

Imagem CCD com 180 s de exposição do asteroide 315 (Constantia). Este asteroide compartilhava o mesmo campo estelar com os objetos 58.547 (1997 FZ2) e 166.382 (2002 LA50) devido ao efeito de perspectiva. Na ocasião do registro, a distância entre os asteroides era de dezenas de milhões de quilômetros. A ideia popularizada por filmes de ficção científica de que os asteroides estão a poucas dezenas de metros entre si não é correta. A imagem foi obtida em 03-03-2014 UT, através do filtro R, usando o telescópio T21 da rede Itelescope no Novo México (EUA).


Diagrama gerado pelo programa "Astrometrica" mostrando os três objetos (círculos
vermelhos). Os círculos verdes representam  estrelas do catálogo USNO-B1.

Aninação comparando as posições obtidas dos três asteroides no instante do
registro. Diagramas orbitais gerados pelo "JPL Minor Planet Browser". A órbita mais
externa é a do planeta Júpiter.

sábado, 17 de maio de 2014

VJA8ACE = 2014 JO25

Soma de nove imagens CCD de 12s de exposição do NEO 2014 JO25 (círculo roxo) obtidas em 05-05-2014 UT, através do telescópio T11 da rede Itelescope, no Novo México (H06, EUA). Este objeto estava na lista de NEOs cuja órbita deveria ser refinada antes da obtenção da designação no padrão IAU. Colaborei com este objetivo, obtendo duas posições astrométricas nos filtros V e R. A magnitude R do objeto era 17,6 usando como referência o catálogo USNO-B1.


quinta-feira, 1 de maio de 2014

A Importância da Astrometria

A astrometria é a parte da astronomia dedicada à determinação das posições dos astros no céu. Graças às medições posicionais da Lua e do Sol realizadas há algumas centenas ou milhares de anos antes de Cristo por sacerdotes na Babilônia, foi possível desenvolver um calendário que culminou no que utilizamos atualmente. Com o advento da teoria gravitacional de Newton no início do século XVIII, foi possível justificar por que as órbitas dos planetas são elipses, conforme sugerido por Kepler. Essas descobertas só se tornaram viáveis devido às observações posicionais de planetas e cometas realizadas anteriormente.

Hoje em dia, um número excepcional de asteroides e cometas é descoberto anualmente por iniciativas profissionais e amadoras. Sem observações astrométricas precisas, as órbitas desses corpos ficam mal determinadas, o que pode levar à perda desses objetos. Um exemplo notável é o cometa 289P/Blanpain, que foi descoberto em 1819 e permaneceu perdido até ser reencontrado em 2013.

A astrometria pode ser realizada com um mínimo de recursos instrumentais e computacionais. Utilizando um telescópio com algumas dezenas de centímetros de abertura, equipado com uma câmera CCD e um PC, é possível montar uma estação astrométrica que contribua significativamente para a determinação das órbitas de asteroides e cometas. É fundamental que, mesmo em observações físicas desses corpos, suas coordenadas sejam determinadas e enviadas ao Minor Planet Center (MPC). O programa Astrometrica, desenvolvido por H. Raab, facilita consideravelmente esse trabalho.

Apresento alguns objetos que foram medidos por mim e meus alunos do curso de astrofísica observacional da UFRB, em 2013.2. Todas as imagens foram obtidas através do telescópio "dome 2" do Observatório Slooh das Ilhas Canárias (Espanha).

NEO 1998 QE2 (círculo roxo) - Imagem no filtro R obtida em 29-05-2013 UT.
As estrelas envolvidas por círculos verdes pertencem ao
catálogo astrométrico USNO-B 1.0 e estão presentes no registro. As
estrelas dentro dos círculos amarelos foram rejeitadas no 
processamento astrométrico. Imagem processada pelo
software Astrometrica. Posições medidas publicadas na MPEC 2014-J02.

NEO 2003 GS - Filtro R - 25-04-2014 UT. Posições medidas publicadas na
MPEC 2014-H46

NEO 2014 HV2 - 28-04-2014 UT - Soma das imagens obtidas nos filtros RGB. As imagens
foram centradas no asteroide em movimento (não perfeitamente), justificando as múltiplas estrelas
em linha. Posições medidas publicadas na MPEC 2014-H71


C/2012 K1 - Filtro B - 01-05-2014 UT

NEO 2014 GY48 - Filtro R - 01-05-2014 UT. Posições medidas
publicadas na MPEC 2014-JO7.

sexta-feira, 11 de abril de 2014

O astrônomo assistiu: "Cosmos: A Spacetime Odyssey"

Há três semanas, acompanho os capítulos da nova versão da série "Cosmos". Sinceramente, estou tentando não comparar com a primeira versão de 1980, entretanto, isso não é fácil. Definitivamente, Neil Tyson não tem o mesmo carisma de Carl Sagan. Sagan possuía uma consciência de câmera e um tom de voz no qual pude perceber um misto de amor e fascinação pela astronomia. Isso foi o que me "fisgou", e me tornei astrônomo por causa de "Cosmos". O que pude notar nas duas versões da série é a tendência em idealizar cientistas. Fiquei abismado com a representação de Isaac Newton no episódio III. Newton tinha defeitos e qualidades, como qualquer ser humano. Definitivamente, ele não era a representação que vimos na excepcional animação apresentada. Na animação, Newton era "perseguido" por Robert Hooke, cujo rosto não era mostrado. A justificativa para isso é que não existem representações da fisionomia de Hooke feitas em sua época. Entretanto, ao meu ver, sua representação física na animação lembrava a do personagem Gollum do "Senhor dos Anéis". Por mais que tenha havido intrigas entre Newton e Hooke, considerei essa representação de Hooke altamente desrespeitosa. Robert Hooke era um cientista excepcional, com contribuições importantes em diversos campos da ciência.

Confesso que fiquei emocionado em assistir à animação onde apareciam William e John Herschel no episódio IV. Tenho profunda admiração pelos dois. Entretanto, não creio que William tivesse uma concepção espaço-temporal tão sofisticada como a apresentada na conversa com seu filho, no início do século XIX. A primeira determinação de uma distância interestelar somente ocorreria em 1838, com a estrela 61 Cygni, por F. W. Bessel. W. Herschel havia falecido 16 anos antes desta descoberta.

Apesar dessas observações, considero válida qualquer iniciativa voltada à divulgação da ciência e continuarei a assistir.


Card de abertura. Fonte: Wikipedia.


quinta-feira, 10 de abril de 2014

C/2014 E2 (JACQUES) - Registro

Imagem CCD LRGB do cometa Jacques obtida no Observatório Slooh das Ilhas Canárias (Espanha). O tom avermelhado apresentado pelo objeto pode sugerir que este objeto é "poeirento", ou seja sua razão poeira/gás pode pender mais para o primeiro constituinte. Uma determinação robusta do índice de cor B-V também sugere o avermelhamento do objeto. 



Minha análise das cores deste cometa foram publicadas em Betzler et al (2017).

O colonialismo cultural na ciência

  Esta postagem é uma forma de catarse e também um registro para futuras gerações de cientistas brasileiros. Em 15 de dezembro de 2022, envi...