quarta-feira, 15 de fevereiro de 2023

252P/LINEAR

Registro do cometa LINEAR obtido no loteamento Santo Antônio, em Amargosa (BA). As imagens foram capturadas com uma câmera Nikon D80 em 22-03-2016, entre 06h47min e 07h07min UT. A figura (b) é o resultado da soma de nove fotografias, cada uma com 15 segundos de exposição, ISO 1600, obturador f/5,3 e objetiva de 40 mm. As fotografias foram alinhadas e somadas com o software Sequator.

A magnitude do cometa devia ser próxima de cinco na ocasião do registro, segundo observadores da REA-Brasil.

O núcleo deste cometa deve ter um raio de 0,33 km, assumindo que não seja hiperativo. Este foi o menor objeto do sistema solar que consegui registrar até o momento usando uma simples máquina fotográfica.



(a) - Identificação das constelações presentes na imagem (b)
pelo Astrometry.com.


(b) - Um zoom de 250 x do Google Chrome facilita a
 visualização do objeto (seta).


segunda-feira, 6 de fevereiro de 2023

C/2022 E3 (ZTF)

Registro do cometa ZTF realizado no bairro Santo Antônio (indicado pela seta), no centro histórico de Salvador. As imagens foram capturadas com uma câmera Canon Rebel T100 no dia 05/02/2023, entre 22h29min e 22h33min UT. A figura (a) resulta da soma de 10 fotografias, cada uma com 15 segundos de exposição, ISO 800, obturador f/3.5 e lente grande angular (18 mm). As imagens foram alinhadas, somadas e corrigidas para poluição luminosa utilizando o software Sequator.

De acordo com o COBS, a magnitude visual total do cometa devia ser em torno de 5,9, o que está próximo do limite de detecção da minha câmera, dado o ambiente urbano.

O núcleo deste cometa deve ter um raio mínimo estimado em 2,3 km, assumindo que ele não seja hiperativo.


(a) Um zoom de 250 x do Google Chrome facilita a visualização
do objeto (seta).



 (b) Identificação das constelações presentes na imagem (a)
pelo Astrometry.com.


domingo, 5 de fevereiro de 2023

O cometa 96P/Machholz e sua composição química: é possível acreditar em tudo o que se lê na internet?


Diversos canais de divulgação científica na internet aventaram duas hipóteses para explicar por que o cometa Machholz 1 apresenta abundâncias de cianogênio e carbono abaixo das encontradas em uma amostra homogênea, criada e atualizada há décadas por pesquisadores do Lowell Observatory (EUA). A primeira hipótese é que o cometa se formou em uma região diferente do sistema solar em relação àquela onde a maioria dos cometas da amostra surgiu. Esta hipótese deve ser avaliada com cautela, pois sempre existe a possibilidade de viés observacional na nossa amostra. Tal viés pode estar associado à escolha dos objetos: astrônomos tendem a observar objetos mais brilhantes, uma vez que isso melhora a qualidade dos registros. A hipótese alternativa é que o cometa Machholz 1 tenha origem interestelar, ou seja, que tenha vindo de fora do sistema solar. Embora esta segunda hipótese seja intrigante, ela é altamente especulativa, uma vez que é muito difícil inferir a origem interestelar de um cometa periódico, como o Machholz 1, apenas com base em sua órbita atual. Além disso, sistemas exoplanetários são muito provavelmente formados de maneira semelhante ao nosso, com as mesmas substâncias, talvez em abundâncias ligeiramente diferentes, mas nada que resulte em situações extremas como a hipótese que sugere que planetas gigantes tendem a se formar ao redor de estrelas mais metálicas que o Sol.

Devemos ter cuidado com o que lemos na internet, pois jornalistas não são cientistas e não têm a obrigação de ser, e astrônomos às vezes podem ser mal interpretados.



Periélio do cometa Machholz 1 registrado através da câmera C3
do satélite SOHO da NASA/ESA.

quarta-feira, 21 de dezembro de 2022

Asteroides e montes de pedras

A estrutura de muitos pequenos asteroides (com menos de 10 km de diâmetro) pode ser do tipo "rubble pile", ou seja, um conglomerado de fragmentos rochosos mantidos juntos pela gravidade. Esta hipótese foi formulada na década de 1990 para explicar por que existem poucos asteroides com períodos de rotação inferiores ao da "spin barrier" (menos de 2,2 horas). Abaixo, algumas imagens que ilustram este conceito:


Monte de brita no canteiro da Av. Juracy Magalhães Jr.Imagem obtida
em 20-12-2022, que inspirou esta postagem
.
Rotação do asteroide Itokawa. Fonte: JAXA

Rotação do asteroide Ryugu. Fonte: JAXA

      Rotação do asteroide Bennu. Fonte: NASA.

sábado, 17 de dezembro de 2022

O colonialismo cultural na ciência

 


Esta postagem é uma forma de catarse e também um registro para futuras gerações de cientistas brasileiros. Em 15 de dezembro de 2022, enviei uma short communication para o "The Astronomer's Telegram" (Atel), com base em dados de dois asteroides próximos à Terra que eu havia observado em 2013 e 2014. Dados sobre esses objetos já haviam sido publicados no Atel, o que me levou a considerar razoável divulgar meus resultados nesse canal, apesar do tempo decorrido.

No dia seguinte, fiquei surpreso ao receber um e-mail de um pesquisador do INAF/IAPS, em Roma (Itália). O pesquisador expressou surpresa ao ver um telegrama com observações realizadas há quase 10 anos, ressaltando que o Atel foi concebido para divulgar observações novas, eventos transitórios ou requisições de acompanhamento, e não confirmações de observações já divulgadas. O pesquisador também enviou uma cópia do seu e-mail para o editor do Atel. Respondi ao pesquisador romano afirmando que dados não processados e publicados não contribuem para a ciência e que a confirmação faz parte da prática científica.

Uma rápida pesquisa no Google revelou que o pesquisador romano é um senhor de idade, o que presumo estar associado à sabedoria e ao bom senso, e que trabalha há décadas com astrofísica de estrelas variáveis e de altas energias. O pesquisador começou a publicar em 1973, ano em que nasci!

Ciência sem confirmação não é ciência. A moderna sede do INAF/IAPS está a poucos quilômetros do Colégio Romano, onde, quatrocentos anos antes do e-mail do pesquisador romano, as luas de Júpiter foram observadas por padres e professores desta instituição, confirmando a descoberta de Galileo.

A pergunta que fica é: por que o pesquisador romano ignora o básico do método científico? Uma hipótese é que o colonialismo cultural possa estar em jogo. A Europa, ao colonizar brutalmente as Américas, África e Ásia, impôs uma pretensa superioridade moral e intelectual sobre os colonizados. Acredito que o pesquisador romano possa ter se autoinvestido dessa autoridade para julgar o que pode ou não ser publicado em um canal que ele não criou e com o qual não tem vínculo formal. Paradoxalmente, o pesquisador está ligado a um grupo da IAU que preserva dados astronômicos históricos.

Concluo que, com quase 50 anos de idade e um pós-doutorado, sofri bullying de um senhor com mais de 70 anos, residente do outro lado do Atlântico, com quem não tenho vínculo e que não trabalha na minha área de pesquisa.

Será que ele teria enviado um e-mail dessa natureza a um pesquisador de uma nação do norte global? Ele abreviaria "doutor" com "d" minúsculo? Será que ele sabe que tenho um artigo publicado na revista da Accademia Nazionale delle Scienze detta dei XL?

Enviei a resposta ao pesquisador há mais de 24 horas e ainda não recebi retorno. O editor também não entrou em contato. Não perdi minhas credenciais para postar no Atel. O mais interessante é que não publicava nada desde 2015!

Meu conselho? Não abaixe a cabeça para pesquisadores estrangeiros, por mais renomados que sejam. Estar formado em universidades europeias ou nos EUA não implica automaticamente ser um pesquisador excepcional e competente. Opine e critique. Suas ideias podem ser superiores às desses pesquisadores. Muitos são extremamente conservadores e mantêm a mesma linha de pesquisa do doutorado por toda a carreira, produzindo o conhecido "feijão-com-arroz". Frequentemente, eles têm um número elevado de publicações em revistas de impacto devido ao trabalho em grandes grupos. Já encontrei pesquisadores com milhares de citações no Google que não são primeiros autores em artigos há anos. Ah! Eles também erram. Em 2022, o pesquisador romano confundiu um pixel quente em uma imagem CCD com um outburst em um quasar.

Já me deparei com pareceristas de artigos sobre meteoros que claramente não dominavam conceitos básicos de estatística e probabilidade, que ensino a alunos do primeiro semestre da UFRB, e que alegaram que eu não os utilizava corretamente. Esses pareceres continham expressões populares ou sarcásticas como "laranjas e maçãs" ou "santo graal", que o editor da revista irresponsavelmente deixou passar.

Não foi a primeira vez que tive problemas na interação com pesquisadores italianos. Posso discutir isso em uma futura postagem, se achar pertinente.

Considerei esta situação tão vexatória que resolvi ocultar o nome do autor do e-mail, referindo-me a ele como "pesquisador" ou "pesquisador romano" ao longo do texto. Aprendi com minha família a ter respeito por pessoas mais velhas e, como cientista, a admirar a carreira de terceiros.

Abaixo reproduzo a sequência de e-mails:

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Dear dr. Betzler, I was rather surprised to see in your ATel #15812 the

report of observations made nearly ten years ago! I was convinced that

ATels are supposed to be used to communicate new or very recent

observations to help follow-up by other observers, not to confirm old

observations already published on ATel at due time.

Sincerely yours

xxxxxx

-- 

Associated Researcher at INAF/IAPS-Roma, Italy


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Dear Dr. xxxx,


Thank you for your email and your observations. However, I must remind you that there are thousands of gigabytes of data on our personal hard drives and in the observatories' public storage. If these data are not processed and published, they do not contribute to the development of science, and confirmation is an important part of that.


Sincerely


Alberto S. Betzler

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O colonialismo cultural na ciência

  Esta postagem é uma forma de catarse e também um registro para futuras gerações de cientistas brasileiros. Em 15 de dezembro de 2022, envi...