sexta-feira, 25 de maio de 2018

Primeira Imagem do Caçador de Planetas de Segunda Geração

O satélite TESS, destinado a identificar planetas solares tão pequenos quanto a Terra em outras estrelas de nossa galáxia, obteve sua primeira imagem em 17 (ou 18)-05-2018 de um campo austral da Via Láctea, na região do Centauro. Processei esta imagem com o programa online "Astrometry.net". O campo da imagem é de 10,8 x 8,13 graus, equivalente ao que seria obtido com um teleobjetiva ligada a uma câmera fotográfica usual.

O centro da imagem corresponde as coordenadas equatoriais ascensão reta 13h 44m 01.163s e
declinação -63° 19' 14.846". A escala de placa é de 37,1 arcsec/pixel. Alguns objetos da Via Láctea

estão marcados na imagem.


Campo de visão da imagem sobre uma parte da esfera
celeste.

quinta-feira, 24 de maio de 2018

Navio dos Tolos

A gravura abaixo ilustra de forma bem exata a situação atual de nosso pais.  

Ilustração do artista Albrecht Dürer em
Stultifera navis ("Navio dos Tolos")
de Sebastian Brant, publicado por Johann
 Bergmann von Olpe (de), na Basiléia, em 1498.

Algo óbvio que aprendi na vida é que a maioria das situações que vivemos é resultado de nossos atos pregressos. Em relação à política, podemos fazer uma extrapolação e concluir o mesmo: um governo antipovo é o resultado de escolhas impensadas por parte da maioria da população. Não devemos simplesmente votar por obrigação; devemos escolher nossos representantes de forma consciente, sempre lembrando que não devemos eleger alguém sem um compromisso prévio com a população. Nossos representantes devem trabalhar para o bem-estar da maioria, e qualquer pensamento diferente disso é insensato diante da condição que justifica a existência de um governo constituído.

Baseado no binômio responsabilidade-culpa mencionado no início deste texto, sugiro uma pequena autorreflexão: será que o caro leitor não é tão imprudente quanto este ou aquele membro de um dos poderes da república que você critica e, igualmente, abusa de suas efêmeras atribuições por motivações pessoais? Pense nisso.

sábado, 12 de maio de 2018

Um estranho no ninho

Uma equipe de astrônomos, utilizando o telescópio VLT do Observatório Paranal do ESO e o Hubble Space Telescope, identificou que o objeto do Cinturão de Kuiper 2004 EW95 é do grupo taxonômico C. Esta região do sistema solar encontra-se além da órbita de Netuno e é caracterizada por objetos com centenas ou milhares de quilômetros de diâmetro e natureza muito similar a núcleos de cometas, ou seja feitos essencialmente de gelo de água. A descoberta deste objeto colabora com um modelo que sugere esses asteroides podem ter sido lançados para as regiões mais externas do sistema solar pela ação de ressonâncias orbitais com planetas gigantes gasosos em formação.

Impressão artística do asteroide 2004 EW95. Não há uma curva de
luz deste objeto que permita especular sobre seu formato. Fonte:ESO/M. Kornmesser
Órbita do objeto (vermelho).  Em verde claro, num mesmo plano, temos as
órbitas de Netuno, Urano e Saturno. Note a grande inclinação da órbita do asteroide com relação
ao plano do sistema solar. Fonte: ESO/L. Calçada

EsoCast # 160 tratando da descoberta.

domingo, 6 de maio de 2018

Por que o cometa Halley "micou" em 1986 ? - Parte 2

Comparação das dimensões angulares do cometa 1P/Halley em momentos próximos de suas máximas aproximações à Terra, ocorridas em 1910 e 1986.

A emulsão fotográfica utilizada por E. E. Barnard em 1910 era certamente muito menos sensível do que os detectores empregados nas imagens de 1986, o que possivelmente justifica o uso de um tempo de exposição mais longo e de um instrumento com maior abertura (Fig. 1). No entanto, com base nas dimensões angulares estimadas, é evidente que o cometa Halley não era um objeto facilmente discernível a olho nu em céus urbanos durante abril de 1986. Embora visível em locais com pouca poluição luminosa, sua aparência era discreta, com uma coma de brilho difuso e dimensões angulares semelhantes às do aglomerado globular NGC 5139, conhecido como Ômega Centauri, na constelação do Centauro (Fig. 2). Enquanto Ômega Centauri apresenta um diâmetro angular de cerca de 36 a 55 minutos de arco, a coma do Halley em 1986 geralmente não excedia 20 a 30 minutos de arco, com brilho superficial bem mais baixo.


Fig. 1 -Fotografia obtida em 29 de Maio de 1910 às 15:11 (ou 15:28!) UT por E.E. Barnard no Observatório de Yerkes (EUA), usando o telescópio "Bruce" de 0,25-m de abertura, e publicada originalmente no jornal New York Times. O campo de visão é  7,44 x 5,63 graus e a escala de placa é de 33,8 arcsec/pixel. O aspecto trilhado das estrelas de campo é causado pelo tentativa de acompanhar o movimento próprio do cometa no céu. O comprimento da cauda do cometa é de cerca de 5,4 graus.

Campo de visão no céu da foto anterior. Imagem gerada pelo
programa online astrometry.net


Fig.2 - Detalhe de uma foto obtida pelo astrônomo amador brasileiro
Nelson Falsarella, em São José do Rio Preto (São Paulo), no dia 11 de Abril de 1986 às 05:50 UT. O filme utilizado foi Kodacolor VR de 400 ASA e 210 s de exposição, usando câmeras Pentax K1000 ou Zenit 12XP e, presumivelmente, lentes normais. O campo de visão é de 7,33 x 6,81 graus e a escala
de placa é de 117 arcsec/pixel.  A coma apresentava 0,5 graus de diâmetro, igual a dimensão angular da Lua.

Campo de visão no céu da foto anterior. Imagem gerada pelo
programa online astrometry.net

quinta-feira, 3 de maio de 2018

Por que o cometa Halley "micou" em 1986 ? - Parte 1

O cometa Halley teve um encontro espetacular com a Terra em 1910. Naquele ano, apresentou grande brilho, com magnitude visual aparente entre 0 e 1, e uma cauda com comprimento estimado em cerca de 70 graus. Essas características geraram enorme expectativa em relação ao seu retorno ao Sistema Solar interior em 1986. No entanto, a observação do cometa nesse retorno foi decepcionante. Em abril de 1986, dois meses após o periélio, o Halley apresentou magnitude visual próxima de 2 e um comprimento máximo de cauda entre 10 e 20 graus.

Quais são as possíveis causas dessa grande variação na aparência morfológica entre duas passagens consecutivas? Podemos considerar fatores sociais e geométricos:

i) Em 1910, a maior parte da população mundial vivia em áreas rurais, onde a poluição luminosa era mínima ou inexistente. Isso favorecia a observação de estruturas tênues na coma e na cauda do cometa, que seriam facilmente ofuscadas em céus urbanos.

ii) A geometria Terra–Sol–cometa não foi favorável em 1986. Como mostra a Fig. 1, o Halley estava a cerca de 60 milhões de quilômetros da Terra em sua máxima aproximação, muito mais distante do que os 22 milhões de quilômetros registrados em maio de 1910. Isso implicou uma diminuição de seu brilho aparente, de acordo com a lei do inverso do quadrado da distância. A geometria orbital também dificultou a observação ampla do cometa. Em 1910, no auge do brilho, ele era visível ao entardecer. Em 1986, ao contrário, só podia ser observado na segunda metade da noite e durante a madrugada, o que naturalmente reduziu o número de observadores ocasionais.


Fig.1 - Cometa Halley no instante de sua máxima aproximação da Terra em
 11 de abril de 1986. 

Minha Vivência com o Colonialismo Cultural na Ciência

  Esta postagem tem um caráter de reflexão e registro para futuras gerações de cientistas brasileiros. Em 15 de dezembro de 2022, enviei uma...