domingo, 6 de maio de 2018

Por que o cometa Halley "micou" em 1986 ? - Parte 2

Comparação das dimensões angulares do cometa 1P/Halley em momentos próximos de suas máximas aproximações à Terra, ocorridas em 1910 e 1986.

A emulsão fotográfica utilizada por E. E. Barnard em 1910 era certamente muito menos sensível do que os detectores empregados nas imagens de 1986, o que possivelmente justifica o uso de um tempo de exposição mais longo e de um instrumento com maior abertura (Fig. 1). No entanto, com base nas dimensões angulares estimadas, é evidente que o cometa Halley não era um objeto facilmente discernível a olho nu em céus urbanos durante abril de 1986. Embora visível em locais com pouca poluição luminosa, sua aparência era discreta, com uma coma de brilho difuso e dimensões angulares semelhantes às do aglomerado globular NGC 5139, conhecido como Ômega Centauri, na constelação do Centauro (Fig. 2). Enquanto Ômega Centauri apresenta um diâmetro angular de cerca de 36 a 55 minutos de arco, a coma do Halley em 1986 geralmente não excedia 20 a 30 minutos de arco, com brilho superficial bem mais baixo.


Fig. 1 -Fotografia obtida em 29 de Maio de 1910 às 15:11 (ou 15:28!) UT por E.E. Barnard no Observatório de Yerkes (EUA), usando o telescópio "Bruce" de 0,25-m de abertura, e publicada originalmente no jornal New York Times. O campo de visão é  7,44 x 5,63 graus e a escala de placa é de 33,8 arcsec/pixel. O aspecto trilhado das estrelas de campo é causado pelo tentativa de acompanhar o movimento próprio do cometa no céu. O comprimento da cauda do cometa é de cerca de 5,4 graus.

Campo de visão no céu da foto anterior. Imagem gerada pelo
programa online astrometry.net


Fig.2 - Detalhe de uma foto obtida pelo astrônomo amador brasileiro
Nelson Falsarella, em São José do Rio Preto (São Paulo), no dia 11 de Abril de 1986 às 05:50 UT. O filme utilizado foi Kodacolor VR de 400 ASA e 210 s de exposição, usando câmeras Pentax K1000 ou Zenit 12XP e, presumivelmente, lentes normais. O campo de visão é de 7,33 x 6,81 graus e a escala
de placa é de 117 arcsec/pixel.  A coma apresentava 0,5 graus de diâmetro, igual a dimensão angular da Lua.

Campo de visão no céu da foto anterior. Imagem gerada pelo
programa online astrometry.net

quinta-feira, 3 de maio de 2018

Por que o cometa Halley "micou" em 1986 ? - Parte 1

O cometa Halley teve um encontro espetacular com a Terra em 1910. Naquele ano, apresentou grande brilho, com magnitude visual aparente entre 0 e 1, e uma cauda com comprimento estimado em cerca de 70 graus. Essas características geraram enorme expectativa em relação ao seu retorno ao Sistema Solar interior em 1986. No entanto, a observação do cometa nesse retorno foi decepcionante. Em abril de 1986, dois meses após o periélio, o Halley apresentou magnitude visual próxima de 2 e um comprimento máximo de cauda entre 10 e 20 graus.

Quais são as possíveis causas dessa grande variação na aparência morfológica entre duas passagens consecutivas? Podemos considerar fatores sociais e geométricos:

i) Em 1910, a maior parte da população mundial vivia em áreas rurais, onde a poluição luminosa era mínima ou inexistente. Isso favorecia a observação de estruturas tênues na coma e na cauda do cometa, que seriam facilmente ofuscadas em céus urbanos.

ii) A geometria Terra–Sol–cometa não foi favorável em 1986. Como mostra a Fig. 1, o Halley estava a cerca de 60 milhões de quilômetros da Terra em sua máxima aproximação, muito mais distante do que os 22 milhões de quilômetros registrados em maio de 1910. Isso implicou uma diminuição de seu brilho aparente, de acordo com a lei do inverso do quadrado da distância. A geometria orbital também dificultou a observação ampla do cometa. Em 1910, no auge do brilho, ele era visível ao entardecer. Em 1986, ao contrário, só podia ser observado na segunda metade da noite e durante a madrugada, o que naturalmente reduziu o número de observadores ocasionais.


Fig.1 - Cometa Halley no instante de sua máxima aproximação da Terra em
 11 de abril de 1986. 

sexta-feira, 20 de abril de 2018

Sistema Terra-Lua na Constelação da Baleia

Processamento usando o programa online "astrometry.net", de uma imagem gerada pela câmera NavCam 1 da sonda "OSIRIS-REx". A imagem foi obtida em 11 de janeiro de 2018, quando a sonda estava a 63,6  milhões de quilômetros da Terra.  Pelo efeito de perspectiva, o sistema Terra-Lua esta projetado contra a constelação da Baleia. A imagem original pode ser encontrada neste "link".


O sistema Terra-Lua esta no centro da imagem, dentro
do círculo. O campo de visão de imagem é de 32,6 x 43,5 graus.



quinta-feira, 19 de abril de 2018

Artigo sobre William Herschel

Um dos artigos que tive mais orgulho de escrever foi sobre o trabalho científico de Sir William Herschel, em minha opinião, um dos maiores astrônomos de todos os tempos.  O artigo foi originalmente publicado na extinta revista Macrocosmo.com #41 e pode ser baixado neste "link".


quarta-feira, 18 de abril de 2018

TCC de Alberto Silva Betzler

Em 30 de outubro de 1998, defendi meu Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) em Astronomia na UFRJ. Este TCC trata da análise de dados fotométricos do centauro (2060) Chiron e do cometa C/1995 O1 (Hale-Bopp), estando associado a três artigos publicados em periódicos internacionais. O capítulo 2 apresentou o estudo de três ocultações estelares pela coma do cometa Hale-Bopp, registradas em junho de 1996, no Observatório do Pico dos Dias (Minas Gerais). Esses resultados foram publicados apenas em 2017, ou seja, 19 anos após a apresentação de meu TCC.

Como forma de comemorar meus 20 anos de carreira e para auxiliar estudantes que se encontrem em situação semelhante, disponibilizo meu TCC para download neste link.


Observatório do Valongo, sede do curso de 
astronomia da UFRJ. Fonte: Wikipedia.

Minha Vivência com o Colonialismo Cultural na Ciência

  Esta postagem tem um caráter de reflexão e registro para futuras gerações de cientistas brasileiros. Em 15 de dezembro de 2022, enviei uma...