quarta-feira, 18 de janeiro de 2012

Sonda Phobos-Grunt pode ter caido no Brasil

A agência espacial russa Roscosmos divulgou que a sonda Phobos-Grunt pode não ter caído no oceano Pacífico, como anteriormente divulgado. A nave pode ter atingido a região central do Brasil. Outra possibilidade é que a sonda tenha se fragmentado e caído nos oceanos Atlântico, Pacífico e na região central do Brasil. O sistema de controle aeroespacial brasileiro não confirma a detecção de objeto(s) entrando no espaço aéreo brasileiro no instante previsto para a reentrada da sonda. Desta notícia, acho interessante dois aspectos:

a) A agência espacial russa não sabe onde a nave reentrou. Isso poderia sugerir falta de expertise dos russos nesta matéria, mas não creio que isso seja correto. Para determinar a órbita de um satélite, é necessário que o mesmo seja acompanhado opticamente ou por radar. O problema é que os russos não possuem uma rede de acompanhamento de satélites em escala global, ao contrário dos EUA, que possuem uma rede de rastreio dessa natureza. Entretanto, não houve melhorias significativas na previsão do instante e local provável do impacto mesmo com os dados do SPACETRACK. Eventualmente, os parâmetros orbitais não são obtidos em tempo real.

b) Os radares da Força Aérea Brasileira podem não ter sido capazes de detectar um alvo em grande velocidade e altitude. Isso sugere algo preocupante, uma vez que nossa capital se encontra justamente na região onde fragmentos da sonda podem ter caído. Esta incapacidade pode ter origem instrumental ou ser causada pela falta de familiarização dos operadores com objetos dessa natureza. Acredito que a segunda hipótese é mais razoável. Em 1944, o sistema de radar inglês detectou diversos sinais que foram interpretados como mísseis V2 lançados para Londres. Os mísseis não vieram. Estes falsos alarmes foram associados, posteriormente, a meteoros esporádicos.

Como resolver a dúvida relativa à queda da Phobos-Grunt no Brasil? Provavelmente, o meteoro associado à sonda deve ter sido mais brilhante que a Lua cheia em algum instante da reentrada. Conforme a nave penetrou nas camadas mais densas da atmosfera, a sonda se fragmentou em pedaços menores. Tais fragmentos produziriam meteoros com magnitudes tão brilhantes quanto Vênus ou Júpiter. Em qualquer uma dessas situações, a reentrada da sonda seria facilmente visível da superfície. Portanto, se você, leitor, viu algo dessa natureza por volta de ~20-21h (hora de Brasília) do dia 15-01, reporte. O vídeo da TV russa RT sobre esta questão é apresentado abaixo:




terça-feira, 17 de janeiro de 2012

Observatório de Búzios - Parte 1

O "Observatório de Búzios" era um observatório privado localizado na cidade de Búzios, na região dos Lagos, no estado do Rio de Janeiro. Foi construído entre 1987 e 1988 por um empresário da área de telecomunicações. Seu equipamento principal era um telescópio Celestron Compustar de 14". O instrumento estava abrigado em uma cúpula de 3,2 m de diâmetro da Ash Domes (Figuras 1 e 2).

Tive acesso ao observatório através de uma situação inusitada. Em 1989, eu tinha 16 anos e construía e vendia montagens equatoriais germanas para pequenos telescópios amadores. Para divulgar meu trabalho, utilizava classificados em jornais. Um dia, assisti a um documentário na TVE que mostrava a cidade de Búzios, suas belezas naturais e um observatório astronômico (!?!). Fiquei entusiasmado ao saber que havia um observatório amador tão bem equipado em meu estado. Para minha surpresa, após a exibição do documentário, um senhor ligou para minha casa à procura de oculares para seu pequeno telescópio refrator. Durante a conversa, mencionei o que havia visto na TV. O senhor me disse que conhecia o dono do observatório e ofereceu-se para me dar seu telefone. No mesmo dia, entrei em contato com o proprietário do observatório e agendei uma visita. Viajei para Búzios no fim de semana seguinte para conhecer o observatório.

Fiz algumas observações memoráveis em Búzios entre junho e novembro de 1989. Destaco a observação visual da brilhante galáxia "edge-on" NGC-4945, do superaglomerado da Virgem, que me proporcionou uma real percepção da minha pequenez cósmica. Na Lua, observei uma intensa e surpreendente sequência de Fenômenos Transientes Lunares. Também me deleitei com o azul-esverdeado do planeta Urano, que eu acreditava só poder ser observado in loco.

Esse estágio informal no Observatório de Búzios foi fundamental para minha decisão de ingressar na graduação em Astronomia quatro anos depois, e sou imensamente grato ao proprietário do observatório por essa inestimável oportunidade.

Anos mais tarde, o empresário vendeu a casa e o observatório (!!) a um casal de europeus, que montaram um restaurante e uma pequena pousada no local. A propriedade estava à venda quando escrevi esta postagem. Se eu tivesse os recursos necessários, compraria.

(1)

(2)


domingo, 15 de janeiro de 2012

O construtor de telescópios de Vila Valqueire (Rio de Janeiro)

Telescópio de 0,435 m f/13,5 Cassegrain-Coudé construído pelo construtor de telescópios Aguirre no começo da década de 1990. Inicialmente, o telescópio foi concebido como sendo um Newtoniano-Cassegrain-Coudé. Na configuração newtoniana, o telescópio possuía f/4,5. Dada a difração e a grande obstrução causada pelos espelhos secundário e terciário, o foco newtoniano foi abolido alguns meses depois. O instrumento possuía montagem equatorial germana com acompanhamento gerado por um motor elétrico de um eletrodoméstico. O tubo foi feito com cilindros de máquinas de lavar. Os buscadores usavam lentes de antigas máquinas fotocopiadoras ou binóculos. As oculares eram de microscópios. Apesar dessa aparente precariedade, era um instrumento excepcional – prova cabal do talento e genialidade do Sr. Aguirre. Lembro-me de ter visto algumas dezenas de estrelas no aglomerado NGC-4755, mesmo com um céu que não era dos melhores.

Pelo que soube, o Sr. Aguirre vendeu o telescópio para um fazendeiro do interior do Brasil (Mato Grosso?) poucos anos depois.

Na foto, o construtor está efetuando uma observação através do foco Coudé no roll-off roof no terceiro andar de sua casa na Vila Valqueire, subúrbio do Rio de Janeiro.


Sr. Aguirre observando no foco Coudé.

sábado, 14 de janeiro de 2012

Repensando um mundo alienígena

O planeta A que órbita a estrela dupla 55 da constelação do Câncer é um mundo ímpar. Dados gerados pela técnica de velocidade radial revelaram que o período orbital do planeta é de apenas 18 dias. A distância que o separa de sua estrela equivalente a cerca de 4% da distância que separa Mercúrio do Sol. O planeta foi considerado com uma superterra por possuir uma massa inferior a dez massas terrestres. Pelos dados anteriores, se estimou que a temperatura superficial de 55 Cancri A poderia ser de 1760 graus Celsius. Sob estas condições, a superfície do planeta seria constituída de rochas pastosas. Observações de um trânsito planetário, efetuadas pelo telescópio espacial Spitzer, forneceram estimativas mais exatas das dimensões e composição química deste objeto. As novas estimativas sugerem que o planeta tem 7,8 x a massa e duas vezes o diâmetro da Terra. Com estes últimos parâmetros, as possíveis condições ambientais podem implicar que substâncias,  como  água e o gás carbônico, possam estar no estado de supercrítico na superfície do planeta. Em um material no estado supercrítico não há diferenças entre o estado líquido e gasoso. Tal substância pode se difundir em um sólido como um gás e dissolver a matéria como um líquido. O "press release" da NASA sobre esta importante descoberta é apresentada abaixo:


O colonialismo cultural na ciência

  Esta postagem é uma forma de catarse e também um registro para futuras gerações de cientistas brasileiros. Em 15 de dezembro de 2022, envi...