sábado, 26 de maio de 2018

Meteoro da Bahia de 21-02-2018 UT

Esta análise do meteoro na Bahia é baseada em dados públicos divulgados no site "Fireballs" da NASA CNEOS, utilizando sensores instalados em satélites em órbita da Terra.

Em 01:28:03 de 21-02-2018 UT, um grande meteoro explodiu a uma altitude de 31,5 km sobre o Oceano Atlântico, a aproximadamente 160 km da cidade de Salvador (Bahia). O meteoro possuía uma velocidade de 13,1 km/s e se deslocava praticamente ao longo da linha zênite-nadir. Ao explodir, o objeto liberou 0,22 kton de energia, o que corresponde a 1,5% da energia liberada pela explosão da bomba atômica de Hiroshima, mas sem a produção de raios-X, raios gama ou fluxo de partículas, como nêutrons. Com essa quantidade de energia, a massa do meteoroide era possivelmente de 11 toneladas, ou aproximadamente 1000 vezes menor que o famoso meteoro da Rússia de 2013. De acordo com a desaceleração do meteoro, estimada pela rede BRAMON a partir de dados de câmeras de segurança instaladas em Salvador, o objeto era de natureza rochosa. Considerando que o tipo mais comum de meteorito rochoso encontrado na superfície terrestre é o condrito ordinário, com uma densidade máxima de 3,84 g/cm³, o diâmetro do objeto seria de aproximadamente 1,8 metros.

Empilhadeira de contêineres Hyster H250H. Este equipamento
é comum em portos, como o de Salvador, e possui
uma massa equivalente a do meteoroide visto em nossa cidade. O
círculo representa o diâmetro estimado do objeto, suposto esférico.

A rede de estudo de meteoros BRAMON fez uma análise deste evento que possui grande exatidão, em termos astrométricos e cinemáticos, com os resultados obtidos por satélites, levando em consideração os prováveis erros sistemáticos destes últimos dispositivos. Este trabalho pode ser encontrado neste link


Posição da explosão segundo dados NASA CNEOS.

sexta-feira, 25 de maio de 2018

Primeira Imagem do Caçador de Planetas de Segunda Geração

O satélite TESS, destinado a identificar planetas solares tão pequenos quanto a Terra em outras estrelas de nossa galáxia, obteve sua primeira imagem em 17 (ou 18)-05-2018 de um campo austral da Via Láctea, na região do Centauro. Processei esta imagem com o programa online "Astrometry.net". O campo da imagem é de 10,8 x 8,13 graus, equivalente ao que seria obtido com um teleobjetiva ligada a uma câmera fotográfica usual.

O centro da imagem corresponde as coordenadas equatoriais ascensão reta 13h 44m 01.163s e
declinação -63° 19' 14.846". A escala de placa é de 37,1 arcsec/pixel. Alguns objetos da Via Láctea

estão marcados na imagem.


Campo de visão da imagem sobre uma parte da esfera
celeste.

quinta-feira, 24 de maio de 2018

Navio dos Tolos

A gravura abaixo ilustra de forma bem exata a situação atual de nosso pais.  

Ilustração do artista Albrecht Dürer em
Stultifera navis ("Navio dos Tolos")
de Sebastian Brant, publicado por Johann
 Bergmann von Olpe (de), na Basiléia, em 1498.

Algo óbvio que aprendi na vida é que a maioria das situações que vivemos é resultado de nossos atos pregressos. Em relação à política, podemos fazer uma extrapolação e concluir o mesmo: um governo antipovo é o resultado de escolhas impensadas por parte da maioria da população. Não devemos simplesmente votar por obrigação; devemos escolher nossos representantes de forma consciente, sempre lembrando que não devemos eleger alguém sem um compromisso prévio com a população. Nossos representantes devem trabalhar para o bem-estar da maioria, e qualquer pensamento diferente disso é insensato diante da condição que justifica a existência de um governo constituído.

Baseado no binômio responsabilidade-culpa mencionado no início deste texto, sugiro uma pequena autorreflexão: será que o caro leitor não é tão imprudente quanto este ou aquele membro de um dos poderes da república que você critica e, igualmente, abusa de suas efêmeras atribuições por motivações pessoais? Pense nisso.

sábado, 12 de maio de 2018

Um estranho no ninho

Uma equipe de astrônomos, utilizando o telescópio VLT do Observatório Paranal do ESO e o Hubble Space Telescope, identificou que o objeto do Cinturão de Kuiper 2004 EW95 é do grupo taxonômico C. Esta região do sistema solar encontra-se além da órbita de Netuno e é caracterizada por objetos com centenas ou milhares de quilômetros de diâmetro e natureza muito similar a núcleos de cometas, ou seja feitos essencialmente de gelo de água. A descoberta deste objeto colabora com um modelo que sugere esses asteroides podem ter sido lançados para as regiões mais externas do sistema solar pela ação de ressonâncias orbitais com planetas gigantes gasosos em formação.

Impressão artística do asteroide 2004 EW95. Não há uma curva de
luz deste objeto que permita especular sobre seu formato. Fonte:ESO/M. Kornmesser
Órbita do objeto (vermelho).  Em verde claro, num mesmo plano, temos as
órbitas de Netuno, Urano e Saturno. Note a grande inclinação da órbita do asteroide com relação
ao plano do sistema solar. Fonte: ESO/L. Calçada

EsoCast # 160 tratando da descoberta.

domingo, 6 de maio de 2018

Por que o cometa Halley "micou" em 1986 ? - Parte 2

Comparação das dimensões angulares do cometa 1P/Halley em momentos próximos das máximas aproximações da Terra em 1910 e 1986

A emulsão fotográfica utilizada por E. E. Barnard em 1910 era certamente muito menos sensível do que a empregada nas imagens de 1986, o que possivelmente justifica o uso de um tempo de exposição mais longo e um instrumento de maior abertura (Fig. 1). No entanto, pelas dimensões angulares deduzidas, é evidente que o cometa Halley não era um objeto facilmente discernível em um céu urbano em abril de 1986. Embora fosse visível a olho nu, o cometa apresentava um aspecto e dimensões angulares semelhantes aos do aglomerado globular NGC 5139, o Ômega Centauri da constelação do Centauro (Fig. 2).


Fig. 1 -Fotografia obtida em 29 de Maio de 1910 às 15:11 (ou 15:28!) UT por E.E. Barnard no Observatório de Yerkes (EUA), usando o telescópio "Bruce" de 0,25-m de abertura, e publicada originalmente no jornal New York Times. O campo de visão é  7,44 x 5,63 graus e a escala de placa é de 33,8 arcsec/pixel. O aspecto trilhado das estrelas de campo é causado pelo tentativa de acompanhar o movimento próprio do cometa no céu. O comprimento da cauda do cometa é de cerca de 5,4 graus.

Campo de visão no céu da foto anterior. Imagem gerada pelo
programa online astrometry.net


Fig.2 - Detalhe de uma foto obtida pelo astrônomo amador brasileiro
Nelson Falsarella, em São José do Rio Preto (São Paulo), no dia 11 de Abril de 1986 às 05:50 UT. O filme utilizado foi Kodacolor VR de 400 ASA e 210 s de exposição, usando câmeras Pentax K1000 ou Zenit 12XP e, presumivelmente, lentes normais. O campo de visão é de 7,33 x 6,81 graus e a escala
de placa é de 117 arcsec/pixel.  A coma apresentava 0,5 graus de diâmetro, igual a dimensão angular da Lua.

Campo de visão no céu da foto anterior. Imagem gerada pelo
programa online astrometry.net

quinta-feira, 3 de maio de 2018

Por que o cometa Halley "micou" em 1986 ? - Parte 1

O cometa Halley teve um encontro espetacular com o planeta Terra em 1910. Nesse ano, o cometa apresentou um grande brilho, com magnitude visual aparente variando entre 0 e 1, e um comprimento de cauda de cerca de 70 graus. Devido a essas características, criou-se uma enorme expectativa em relação ao retorno deste objeto ao sistema solar interior em 1986. Entretanto, a visão do cometa foi decepcionante. Em abril de 1986, dois meses após seu periélio, o cometa apresentou uma magnitude visual próxima de 2 e um comprimento máximo de cauda de 10 a 20 graus.

Quais são as possíveis origens dessa grande variação na aparência morfológica entre duas passagens consecutivas? Podemos considerar parâmetros sociais e geométricos:

i) Em 1910, a maioria da população mundial vivia no campo, onde o nível de poluição luminosa era extremamente baixo ou inexistente. Isso possibilitou a observação de estruturas mais tênues na coma e na cauda do cometa.

ii) A geometria Terra-Sol-Cometa não era favorável em 1986. Se analisarmos a Fig. 1, percebemos que o cometa estava a cerca de 60 milhões de quilômetros da Terra em sua máxima aproximação, bem mais distante dos 22 milhões de quilômetros da Terra em maio de 1910. Isso implicou uma diminuição de seu brilho, seguindo a lei do inverso do quadrado da distância. A geometria orbital também não favoreceu o aumento do número de observadores. Em 1910, no auge de seu brilho, o cometa era visível ao entardecer, situação contrária à de 1986, quando o objeto era visível apenas após a segunda metade da noite e durante a madrugada.



Fig.1 - Cometa Halley no instante de sua máxima aproximação da Terra em
 11 de abril de 1986. 

O colonialismo cultural na ciência

  Esta postagem é uma forma de catarse e também um registro para futuras gerações de cientistas brasileiros. Em 15 de dezembro de 2022, envi...