segunda-feira, 25 de fevereiro de 2013

Raul Seixas encontra um meteorito no quintal de casa

O título desta postagem é evidentemente uma brincadeira com uma situação que ocorreu em Salvador na semana passada: um suposto meteorito teria caído no quintal da casa do Sr. Paulo Brito, morador de Água de Meninos, às 23:43 da chuvosa noite de 21-02-2013. A testemunha relatou que foi acordado por um forte estrondo e encontrou o aerólito em um buraco com 23 cm de profundidade. Esta perfuração emitia uma densa fumaça nas cores azul e rosa. Segundo a testemunha, o meteorito ainda estava "quente" e o calor emitido foi suficiente para queimar suas mãos. A rocha foi levada pela equipe de um jornal local para o Instituto de Geociências da UFBA. O colega Wilton de Carvalho realizou uma inspeção visual no objeto e constatou que não se tratava de um meteorito. O objeto não apresentava crosta de fusão, resultante da passagem do meteoróide pela atmosfera, e estava muito oxidado. A oxidação do ferro só ocorre após a exposição do meteorito ao oxigênio terrestre por um período muitíssimo superior aos dois dias alegados de sua estadia em nosso planeta. Quando soube dessa história no sábado, não levei muito a sério por um motivo simples: minha câmera de meteoros não registrou nenhum flash ou superbólido durante toda aquela noite. Moro a menos de dois quilômetros da casa do cidadão. Esse flash estaria associado a eventual fragmentação do meteoróide a algumas dezenas de quilômetros do local de impacto. Se o superbólido não tivesse entrado no campo de visão da câmera, um flash com uma magnitude da ordem do brilho da Lua cheia (~ -13) seria facilmente registrado, mesmo em uma noite chuvosa.

Imagem do Sr. Brito com dois fragmentos do pseudo-meteorito.
Foto de Tânia Araújo (Agência "A Tarde")


Sr. Brito mostrando sua mão "queimada" pelo "meteorito".
Foto de Fernando Vivas (Agência "A Tarde")

sábado, 23 de fevereiro de 2013

Objetos Astronômicos em "3D"

Excepcionais representações "volumétricas" de nebulosas e aglomerados de estrelas foram criadas pelo astrônomo amador finlandês J-P Metsävainio. Para a elaboração dessas obras, o artista capturou dezenas de imagens CCD de cada objeto utilizando um telescópio Meade 12" LX200. As imagens foram processadas com um software que permite a distorção de regiões específicas, criando uma sensação de profundidade. Segundo o autor, as imagens foram deformadas com base na suposição de que "quanto mais brilhante, mais próximo" ou, quando disponíveis, a distância das partes do objeto ao Sol. Pessoalmente, com todo respeito, acredito que o artista empregou mais o bom senso estético do que qualquer um dos referenciais "científicos". De qualquer modo, é um trabalho magnífico e um excelente material de divulgação científica. Abaixo, um vídeo do canal do astrofotógrafo no YouTube. O objeto apresentado é a nebulosa IC-1396.



segunda-feira, 18 de fevereiro de 2013

Meteorito da Rússia

Fragmentos do asteróide que originou o meteoro da Rússia foram encontrados na superfície congelada do lago Cherbarkul. O meteorito foi classificado como um condrito ordinário. Pelo menos 10% da massa dos fragmentos é composta de ferro meteórico, olivina e sulfitos.


Foto de um dos fragmentos. Foto de Denis Panteleev
 (Via Wikipedia)

sábado, 16 de fevereiro de 2013

Órbita do Meteoro da Rússia

Órbita preliminar do asteróide que gerou o meteoro visto em 15-02-2013 UT na Rússia. Segundo  a órbita calculada pela agência espacial NASA, o objeto entrou na atmosfera com uma velocidade de 18 km/s. O asteróide se partiu, gerando provavelmente meteoritos, em uma altitude de 15-25 km sobre a superfície terrestre. A órbita do objeto é de um NEO,  possivelmente do tipo "Apollo". Minha classificação do objeto como um asteróide do tipo "Apollo" foi também sugerida pela órbita definida por Zuluaga & Ferrin (2013).

Comparação das órbitas do "Meteoro da Rússia"
e do asteroide 2012 DA14





sexta-feira, 15 de fevereiro de 2013

Grande meteoro (Fireball) sobre os Urais-Rússia

Um bólido foi registrado em 15-02-2013 às 03:15 UT por diversos observadores na região dos Urais, na Rússia. A TV russa RT informou que a explosão estratosférica do meteoro gerou cerca de 1.200 feridos, danos em 5.000 prédios e instalações industriais e, para mim, um surreal informe de que o objeto foi "abatido" em uma altitude de 20 km por um míssil disparado pela força aérea russa. A notícia original pode ser encontrada neste link. Com os vídeos será possível determinar a órbita e a massa pré-atmosférica do objeto. Estimativas preliminares da NASA sugerem que a explosão pode ter tido uma energia próxima de 500 kT, equivalente a 31 bombas de Hiroshima. A massa do asteroide-progenitor seria em torno de 10.000 toneladas e seu diâmetro, de 17 m. Os meteoritos associados caíram sobre a Chelyabinsk Oblast.

A cobertura da TV brasileira sobre o evento foi sofrível. Infelizmente, isso é comum em um país no qual a ciência e a educação não são valorizadas. Por exemplo, na edição de hoje do "Jornal Hoje" da Rede Globo, os apresentadores alternavam incorretamente os termos "meteoro", "meteorito" e "asteroide" tentando definir o objeto visto na Rússia. O interessante é que isso ocorreu mesmo depois da apresentação de uma animação com a definição de meteoro e meteorito. Para os leitores que possuem a mesma dúvida conceitual, recomendo o acesso a uma postagem posterior deste blog com a definição desses termos.



Bólodo visto de Kamensk-Uralsky,
um oblast ao norte de Chelyabinsk.
Fonte: Wikipédia

quinta-feira, 14 de fevereiro de 2013

2012 DA14 - O asteróide será visível do Brasil?

Nesta postagem, reproduzo um diagrama e parte do conteúdo do excelente artigo "Close Approach of 2012 DA14" do blog "Remanzacco Observatory - Comets & NEO". Dada a inclinação de sua órbita em relação à eclíptica e a brevidade do encontro, o asteroide 2012 DA14 não será visível do Brasil em nenhum instante da fase de máxima aproximação com a Terra. Mesmo que houvesse essa possibilidade, o objeto terá magnitude aparente (brilho) máxima próxima de sete. Essa magnitude está além da sensibilidade do olho humano em um céu sem poluição luminosa ou atmosférica. Nas regiões da Terra onde o asteroide estará acima do horizonte, sua observação será possível usando binóculos. A velocidade angular máxima no céu será de 2800"/min. Essa taxa implica que o objeto cruzará um ângulo igual ao diâmetro angular da Lua em 39 segundos. Este tempo é muito curto. Para comparação, Plutão se deslocaria em um ângulo equivalente em 7,4 horas.

Visibilidade de 2014 DA14. A variação da cor indica a altura
do objeto em relação ao horizonte. UT é o "Tempo Universal".  zero graus de
 altura = no horizonte e 90 graus = zênite, sobre a cabeça do observador.
Animação criada por Geert Barentsen.


terça-feira, 12 de fevereiro de 2013

Observatório Astronômico Eurípedes Barsanulfo (R.I.P)

Neste post, compartilho um trecho da seção "Observatórios Antigos" do site "Uranometria Nova". Me recordo de ter lido sobre este observatório na revista "Guia do Halley", lançada pela Editora Abril em 1985 ou 1986. Nesse breve relato, testemunhamos o triste desfecho de um observatório astronômico bem equipado que poderia estar contribuindo para a formação de novas gerações e coletando dados relevantes em várias áreas da astronomia:

Proprietário: Fundação Educandário Pestalozzi

Responsável pelo Observatório: Dr. Tomás Novelino (1901-2000)

Localizado na Fazenda Pestalozzi
Rodovia Cândido Portinari, km 381
Franca - SP

Fundado em: 1986

O Observatório foi desativado e perdido durante os anos 90 do século passado, devido à crise no setor calçadista. A Fundação se desfez das unidades escolares, da fazenda e do próprio Observatório. Contava com um Telescópio Newtoniano com 602 mm de diâmetro, construído por José Scarel Filho, e uma Câmera Astrográfica Schmidt com 500 mm de diâmetro, também fabricada no Brasil.


Visão panorâmica do observatório em suas instalações
na fazenda Pestalozzi.



Na imagem, vemos um telescópio que aparenta ser do tipo newtoniano com 602 mm de diâmetro, em uma montagem altazimutal. É possível que o Dr. Novelino, ex-aluno do professor Barsanulfo, esteja conduzindo a observação. Ao que parece, o instrumento não estava instalado em nenhuma das duas cúpulas da imagem anterior. A imagem original pode ser encontrada aqui.


domingo, 10 de fevereiro de 2013

ISON - Atualização

Imagem CCD de 180s de exposição do cometa ISON (seta), em 10-02-2013 às 04:58 UT, obtida com o telescópio T21 do observatório estadunidense do "Itelescope". O objeto possuía magnitude V =15.911±0.001 no registro. 


quarta-feira, 6 de fevereiro de 2013

Asteróide, Meteoro e Meteorito

Nas últimas 24 horas, muitos leitores acessaram este blog usando as palavras-chave "meteoro+2013" ou "meteorito+2013". Acredito que essas pessoas estavam procurando informações sobre o asteroide 2012 DA14. Este asteroide terá um encontro próximo com a Terra em pouco mais de nove dias. Não há risco de colisão desse objeto com nosso planeta.

Em função da evidente confusão, apresento as definições de asteroide, meteoro e meteorito. As fontes desses termos provêm de glossários confeccionados por instituições de pesquisa astronômica no Brasil:

Asteroide

"Pequeno corpo rochoso pertencente ao sistema solar. A maior parte dos asteroides está concentrada entre as órbitas de Marte e Júpiter, formando o cinturão de asteroides. O maior asteroide conhecido é Ceres, com diâmetro de aproximadamente 1000 km. Os menores têm tamanhos de partículas de poeira."

Fonte: "Glossário - Astronews" - Departamento de Astronomia do IF-UFRGS


NEO 2008 EV5 (seta). Quando observados com telescópios na Terra, objetos com dimensões sub-quilométricas como 2008 EV5 tem aspecto estelar. Registro acima é o resultante da soma de nove imagens CCD obtidas em Salvador (Bahia, Brasil)  em 02-01-2009 UT. O movimento próprio do asteróide foi anulado através do uso do software IRIS. Isto justifica o aspecto "trilhado" das estrelas de campo.

Imagens radar de 2008 EV5 obtidas numa
 época próxima daquela de minhas observações.


Meteoro ou "Estrela Cadente"

"São apenas rastros luminosos e efêmeros causados pela passagem de fragmentos de matéria sólida oriunda do nosso próprio sistema solar durante a sua queda através da nossa atmosfera. Essas partículas ionizam o ar ao seu redor, que se recombina imediatamente após sua passagem, emitindo luz."

Fonte: "Glossário" - LNA


Meteoro RBDM35 - Soma de 21 frames de 0,033s


Meteorito

"Meteoritos são fragmentos de corpos extraterrestres que sobrevivem à passagem atmosférica como grandes meteoros (bólidos) e atingem o solo. Podem ser vistos cair ou encontrados no solo."

Fonte: "Meteoritos - Sua fonte de informação sobre meteorítica" - Site da Dra. Maria Elizabeth Zucolotto, Museu Nacional da UFRJ.


Imagem de um fragmento do meteorito "Avanhandava" em exposição
no Museu Geológico da Bahia. Registro obtido em 03-11-2012. Outro
fragmento deste meteorito esta exposto no Museu Nacional do Rio de
Janeiro.


terça-feira, 5 de fevereiro de 2013

Vídeo sobre o encontro do asteróide 2012 DA14 com a Terra

Excelente vídeo da agência espacial estadunidense NASA sobre o encontro do NEO 2012 DA14, com nosso planeta, em 15/16-02-2013 UT.  Não há risco de colisão deste objeto com a Terra.


Cometa ISON observado pela sonda "Deep Impact"

Entre 17 e 18 de janeiro de 2013 UT, o cometa ISON foi observado pela sonda Deep Impact. A imagem apresentada é a soma das 146 imagens produzidas durante as 36 horas de observação. O nível de resolução da imagem é praticamente o mesmo que seria obtido com telescópios de porte equivalente na Terra. Isso se deve ao fato de que as distâncias nave-objeto-Terra diferiam por cerca de 150 milhões de quilômetros. Especificamente, a sonda estava mais distante do cometa do que a Terra durante a obtenção da imagem.


domingo, 3 de fevereiro de 2013

Por que as pessoas não respeitam as leis no Brasil?

Esta postagem foi motivada pelo desrespeito a uma placa que proíbe o acesso a um píer na Ponta de Humaitá, em Salvador, Bahia. O píer foi construído no ano 2000 como parte do projeto "Via Náutica". No entanto, o projeto não se concretizou por razões que desconheço. De todo modo, há uma placa que proíbe o acesso ao píer, e presumo que a razão seja a segurança, visto que nunca observei qualquer tipo de manutenção naquela estrutura.

No último domingo, por volta das 19h, testemunhei várias pessoas acessando o píer e ignorando deliberadamente a placa. O mais preocupante foi ver uma senhora com sua filha, aparentando ter menos de 35 e 10 anos, respectivamente, ultrapassando a corrente que restringe o acesso. A menina comentou com a mãe que o acesso era proibido, conforme indicado pela placa, mas a mãe respondeu que passariam porque ela, a mãe, estava permitindo. Pela forma como falavam, percebi que eram turistas.

Hoje, 03 de fevereiro de 2013, a situação se repetiu em larga escala. Abaixo, compartilho fotos de um grupo de estudantes que, aparentemente, estavam posando para o álbum de formatura da turma. Não tenho nada contra os estudantes, a mãe ou a filha. Eles apenas estavam reproduzindo uma conduta que, muito provavelmente, aprenderam em algum momento de suas vidas: Por que respeitar as leis se não haverá nenhuma consequência imediata? Contudo, as leis existem para serem respeitadas. Se assim fosse, mais de 240 jovens não teriam perdido suas vidas de forma trágica e cruel no incêndio da Boate Kiss, em Santa Maria (RS), há pouco mais de uma semana.

Não adianta exigir providências das autoridades apenas após a ocorrência de tragédias. Quem coloca os políticos em seus cargos somos nós, as mesmas pessoas que ignoram placas. Infelizmente, eles somos nós.










ISON - Atualização

Imagem CCD de 180s de exposição do cometa ISON (seta), em 02-02-2013 às 04:02 UT, obtida com o telescópio T21 do observatório estadunidense do "Itelescope". O objeto possuía magnitude V = 15.880±0.007 no registro. A galáxia espiral na imagem é a 2MFGC-5781.


Flares no céu causados por satélites artificiais

Registro de três flares provavelmente causados pela reflexão da luz solar em satélites artificiais em órbita da Terra. Os flares apresentam magnitudes diferentes devido à variação da distância entre o objeto e o observador, bem como do ângulo entre a linha Sol-satélite-observador no momento dos eventos. Todos os flashes são mais brilhantes que o planeta Júpiter. Os registros foram realizados por uma câmera all sky no Barbalho (Salvador, Bahia, Brasil). Os instantes de registro dos eventos estão na Hora de Brasília (UT-3h). O objetivo da iniciativa é o estudo de meteoros no céu austral.

A qualidade da conversão do vídeo do Youtube deixa
 um pouco a desejar.

O colonialismo cultural na ciência

  Esta postagem é uma forma de catarse e também um registro para futuras gerações de cientistas brasileiros. Em 15 de dezembro de 2022, envi...