terça-feira, 24 de janeiro de 2012

Um satélite para o asteróide (911) Agamnenon?

O asteroide 911 faz parte do grupo dos troianos de Júpiter. Uma ocultação estelar ocorrida em 19-01-2012 UT apresentou duas diminuições de brilho, o que pode sugerir a existência de um corpo invisível ao redor deste objeto. Considero três possíveis explicações para o ocorrido:

a) Existência de um satélite do asteroide: Embora pouco provável, a presença de um satélite não é impossível. O satélite deveria estar alinhado com o vetor velocidade de 911 no momento da ocultação, uma configuração rara. Esse satélite poderia ser detectado através de observações com telescópios de grande porte utilizando óptica adaptativa (AO). Para isso, a separação angular entre o asteroide e o hipotético satélite deve ser pelo menos equivalente ao limite de difração do instrumento. A segunda diminuição de brilho, ocorrida mais de 10 segundos depois, pode tornar a detecção viável, caso a distância do satélite ao centro do asteroide seja da ordem de algumas centenas de quilômetros.

b) Formato irregular do asteroide: O asteroide (216) Kleopatra pode apresentar duas quedas de brilho durante uma ocultação, devido ao seu formato de "osso" (binário de contato). No entanto, a ocultação do primário já havia terminado. Considerando o tempo transcorrido até a segunda ocultação, o objeto deveria ser extremamente alongado, com um eixo maior algumas vezes maior que o diâmetro estimado para 911. Este diâmetro estimado pode ser obtido com a magnitude absoluta H e o albedo pv do asteroide. Quando H e psão bem determinados, o diâmetro estimado apresenta uma discrepância mediana da ordem de 20% em relação a outros métodos. Portanto, essa hipótese é muito pouco provável.

c) Variação de intensidade devido a modificações do seeing: De acordo com e-mails da lista da IOTA, o sinal-ruído (SNR) dessas observações é baixo (seis). Uma massa de ar em rápido movimento pode ter passado ao longo da linha de visada do observador, o que é uma possibilidade muito provável.


Modelo do asteroide baseado na inversão de sua curva de luz. Fonte: Wikipedia.


domingo, 22 de janeiro de 2012

103P/Hartley 2

Trajetória e sobrevôo da nave "Deep Impact" sobre o núcleo do cometa 103P/Hartley 2 em 04-11-2010. Compare esta imagens com as equivalentes obtidas por reflexão de sinais de radar emitidos da Terra. A rentabilidade da técnica de construção de imagens com sinais radar é inegável. Note que o núcleo do cometa não é inteiramente ativo como nosso senso comum poderia sugerir.


sábado, 21 de janeiro de 2012

Domo do Telescópio de 1,6 m do OPD

O Observatório do Pico-dos-Dias (OPD) foi inaugurado em 1980. Seu primeiro instrumento foi o telescópio Perkin-Elmer de 1,6 m. O telescópio esta no interior de uma cúpula que hoje em dia poderia comportar um telescópio de maior abertura (> 2 m) em montagem altazimutal. O prédio deste telescópio possui três andares. No térreo existe uma câmera de  alto vácuo para aluminização dos espelhos dos telescópios do observatório. A inauguração do OPD marcou o início da moderna astrofísica observacional brasileira. Abaixo apresento algumas fotografias que obtive entre 1995 e 1999 da cúpula do telescópio de 1,6 m:


(1) Rotação da cúpula do telescópio de 1,6 m.

(2) Cúpula do 1,6 m em todo o seu esplendor.

sexta-feira, 20 de janeiro de 2012

Brasil não cumpre o combinado com o ESO

Em 2010, no final do segundo governo Lula, o Brasil firmou um acordo com o ESO (Observatório Europeu do Sul). O Brasil passou a ser o décimo quinto associado deste grupo de países que mantém uma série de observatórios astronômicos no Chile. Nosso país é o primeiro membro não europeu. A cota brasileira é de cerca de duzentos e cinquenta milhões de euros, a ser paga em 10 anos. A primeira parcela deveria ter sido paga no início deste ano, mas isso não ocorreu. O que o Brasil perde com essa falha? Credibilidade internacional. Recentemente, é a segunda vez que o país entra em um consórcio internacional em ciência e tecnologia e não cumpre sua parte. A primeira vez ocorreu na década de 1990, quando o governo FHC assinou um acordo com o grupo responsável pela construção da ISS (Estação Espacial Internacional). O Brasil deveria contribuir com cem milhões de dólares e fornecer componentes para a estação. Foram disponibilizados apenas 10% do combinado, e as peças nunca foram entregues. O Brasil foi excluído do projeto.

O que o país perde com a nossa não adesão ao ESO?

  1. Possibilidade de ter acesso a telescópios de grande porte e periféricos de última geração: Esta característica é fundamental para a obtenção de dados de qualidade, que são essenciais para a formulação de modelos que descrevam a física dos objetos estudados.

  2. Possibilidade de capacitar nosso parque industrial em mecânica e eletrônica de alta precisão: O Brasil não só utilizaria os instrumentos do ESO, mas também contribuiria com a construção de periféricos e das estruturas mecânicas dos telescópios. Isso já ocorre nos projetos dos observatórios Gemini e SOAR, onde o Brasil forneceu espectrógrafos para o telescópio SOAR e a sua cúpula.

  3. Participação de nossas empresas nas licitações do ESO: Empresas dos países-membros participam de licitações para todo tipo de serviço ou produto utilizado pelo ESO. Isso pode resultar em transferência de divisas para nosso país.

Por que o MCT (Ministério da Ciência e Tecnologia) não cumpriu sua parte? A versão oficial está associada ao contingenciamento de recursos em 2011 devido à crise internacional. De fato, o MCT perdeu cerca de 20% de seus recursos no ano passado.

Espero sinceramente que o Brasil entre para esta organização. A Astronomia brasileira não pode ficar estagnada. Estávamos estagnados antes da entrada do país nos projetos Gemini e SOAR na década de 1990. Não podemos correr esse risco novamente. É um caminho sem volta.




O autor deste blog observando no
 ESO de La Silla em dezembro de 1997


quinta-feira, 19 de janeiro de 2012

Observatório de Búzios - Parte 2

Algumas astrofotografias obtidas com o telescópio do Observatório de Búzios. Todas as imagens foram capturadas com a mesma configuração: câmera Olympus, filme Kodak Gold 100, tempo de exposição de 1/1000 s (curtíssimo!), em julho de 1989. (1) e (2): grupo de manchas solares; (3): Lua - Mares do Néctar e da Tranquilidade, obtida na semana em que se comemoravam 20 anos do pouso da Apollo 11 na Lua. Também obtive uma imagem da cratera Tycho, que publiquei no artigo de ensino de ciências "Experimentos Didáticos em Astronomia I: Determinação das Dimensões de Crateras Lunares" de 2005. Acredito que tenha sido a única publicação acadêmica que utilizou imagens produzidas neste observatório.


(1)


(2)


(3) - Mare Nectaris (centro direita) e 
Tranquillitatis (canto superior à esquerda).


Minha Vivência com o Colonialismo Cultural na Ciência

  Esta postagem tem um caráter de reflexão e registro para futuras gerações de cientistas brasileiros. Em 15 de dezembro de 2022, enviei uma...