quinta-feira, 1 de maio de 2014

A Importância da Astrometria

A astrometria é a parte da astronomia dedicada a determinação da posição dos astros no céu. Graças às medições posicionais da Lua e Sol feitas há algumas centenas ou milhares de anos antes de Cristo por sacerdotes na Babilônia surgiu um calendário que nos levou ao atualmente utilizado. Como o advento de sua teoria gravitacional, no começo do século XVIII, Newton foi capaz de justificar porque as órbitas de planetas são elipses, conforme sugerido por Kepler. Estas duas descobertas só se tornaram possíveis devido a realização de observações posicionais de planetas e cometas. 

Nos dias de hoje, um número excepcional de asteroides e cometas são descobertos anualmente por iniciativas profissionais e amadoras. Se não forem realizadas observações astrométricas, as órbitas destes corpos ficam mal determinadas. Isto implica que estes objetos podem ser perdidos. Um bom exemplo é o cometa 289P/Blanpain que foi descoberto em 1819 e ficou perdido até 2013.

A astrometria pode ser feita com um mínimo de recursos instrumentais e computacionais. Com um telescópio da ordem de algumas dezenas de centímetros de abertura, dotado de uma câmera CCD, e um PC é possível montar um estação astrometrica que pode contribuir para a melhoria da determinação das órbitas de asteroides e cometas. Considero fundamental que mesmo em observações físicas destes corpos suas coordenadas sejam determinadas e enviadas ao Minor Planet Center (MPC). O programa Astrometrica de H. Raab facilita muito este trabalho.

Apresento alguns objetos que foram medidos por mim e meus alunos do curso de astrofísica observacional da UFRB, em 2013.2. Todas as imagens foram obtidas através do telescópio "dome 2" do Observatório Slooh das Ilhas Canárias (Espanha).

NEO 1998 QE2 (círculo roxo) - Imagem no filtro R obtida em 29-05-2013 UT.
As estrelas envolvidas por círculos verdes pertencem ao
catálogo astrométrico USNO-B 1.0 e estão presentes no registro. As
estrelas dentro dos círculos amarelos foram rejeitadas no 
processamento astrométrico. Imagem processada pelo
software Astrometrica. Posições medidas publicadas na MPEC 2014-J02.

NEO 2003 GS - Filtro R - 25-04-2014 UT. Posições medidas publicadas na
MPEC 2014-H46

NEO 2014 HV2 - 28-04-2014 UT - Soma das imagens obtidas nos filtros RGB. As imagens
foram centradas no asteroide em movimento (não perfeitamente), justificando as múltiplas estrelas
em linha. Posições medidas publicadas na MPEC 2014-H71


C/2012 K1 - Filtro B - 01-05-2014 UT

NEO 2014 GY48 - Filtro R - 01-05-2014 UT. Posições medidas
publicadas na MPEC 2014-JO7.

sexta-feira, 11 de abril de 2014

O astrônomo assistiu: "Cosmos: A Spacetime Odyssey"

Há três semanas, acompanho os capítulos da nova versão da série "Cosmos". Sinceramente, estou tentando não comparar com a primeira versão de 1980, entretanto isso não é fácil. Definitivamente, Neil Tyson não tem o mesmo carisma de Carl Sagan. Sagan possuía uma consciência de câmera e um tom de voz no qual pude perceber um misto de amor e fascinação pela astronomia. Isso foi o que me "fisgou", e me tornei astrônomo por causa de "Cosmos". O que pude notar nas duas versões da série é a tendência em se idealizar cientistas. Fiquei abismado com a representação de Isaac Newton do episódio III. Newton tinha defeitos e qualidades, como qualquer ser humano. Definitivamente, ele não era a representação que vimos na excepcional animação apresentada. Apesar de ter sido genial e ter mudado a ciência, diversos autores atribuem a Newton o péssimo hábito de apropriar-se de descobertas de outros filósofos naturais, além de "persegui-los". Na animação, Newton era "perseguido" por Robert Hooke, cujo rosto não era mostrado. A justificativa para isso é que não existem representações da fisionomia de Hooke feitas em sua época. Entretanto, ao meu ver, sua representação física na animação lembrava a do personagem Gollum do "Senhor dos Anéis". Por mais que tenha havido intrigas entre Newton e Hooke, considerei esta representação de Hooke altamente desrespeitosa. Robert Hooke era um cientista excepcional, com contribuições importantes em diversos campos da ciência.

Confesso que fiquei emocionado em assistir a animação onde apareciam William e John Herschel no episódio IV. Tenho profunda admiração pelos dois. Entretanto, não creio que William tivesse uma concepção espaço-temporal tão sofisticada como a apresentada na conversa com seu filho, no início do séc. XIX. A primeira determinação de uma distância interestelar somente ocorreria em 1838, com a estrela 61 Cygni por F. W. Bessel. W. Herschel havia falecido 16 anos antes desta descoberta.
Apesar dessas observações, considero válida qualquer iniciativa voltada à divulgação da ciência e continuarei a assistir.

Card de abertura. Fonte: Wikipedia.


quinta-feira, 10 de abril de 2014

C/2014 E2 (JACQUES) - Registro

Imagem CCD LRGB do cometa Jacques obtida no Observatório Slooh das Ilhas Canárias (Espanha). O tom avermelhado apresentado pelo objeto pode sugerir que este objeto é "poeirento", ou seja sua razão poeira/gás pode pender mais para o primeiro constituinte. Uma determinação robusta do índice de cor B-V também sugere o avermelhamento do objeto. 



Minha análise das cores deste cometa foram publicadas em Betzler et al (2017).

domingo, 6 de abril de 2014

Evolução Morfológica dos cometas C/2012 K1 e C/2013 R1 - Animação

Animações das mudanças morfológicas dos cometas PANSTARRS e Lovejoy durante um mês de observações, entre 03-02 e 06-04-2014 UT, com uma cadência média de uma imagem a cada sete dias. As imagens foram obtidas no Observatório Slooh (Ilhas Canárias, Espanha) através dos telescópios "dome 1" (uma imagem para o C/2013 R1) e "dome 2". A variação na morfologia dos cometas pode ser atribuída a um ou mais dos fatores a seguir: i) Variação da distância heliocêntrica, ii) Variação da transparência atmosférica no instante das observações, iii) Variação do telescópio/detector/tempo de exposição, iv) Variação da sublimação de voláteis devido à atividade solar,  v) Incremento súbito da atividade cometária (outburst) e vi) rotação do núcleo em torno de seu(s) eixo(s).


C/2013 R1 (Lovejoy) -  Dez imagens obtidas entre 03-02 e 06-04-2014 UT

C/2012 K1 (PANSTARRS) -  Nove imagens obtidas entre 14-03 e 06-04-2014 UT.

sexta-feira, 4 de abril de 2014

Novas Scorpii e Cygni 2014

Imagens CCD LRGB das Novas Scorpii e Cygni obtidas no Observatório Slooh das Ilhas Canárias (Espanha). Ambos objetos foram descobertos em março de 2014, com câmeras DSLR e teleobjetivas. Estes instrumentos fotográficos são de baixíssimo custo e são frequentemente utilizados por amadores em descobertas de novas galácticas.

Imagem obtida com o telescópio "High Mag" do
 "Dome 2" (campo 13,1` x 8.8`)
Campo estelar da Nova Cygnii 2014. Animação constituída por
 um imagem DSS2-RED e o registro Slooh. A imagem DSS foi obtida antes
do aparecimento do objeto. Imagem alinhadas com o software IRIS.
Nova Scorpii 2014 (seta).Imagem obtida com o telescópio "Wide Field"
 do "Dome 2"(campo 1,4 x 1,1 graus)

O colonialismo cultural na ciência

  Essa postagem parece um discurso de quem que se recusa a se adaptar ao status  quo do mundo. Não concordo com muita coisa por ai, mas não...