O título desta postagem é, evidentemente, uma brincadeira com um episódio ocorrido em Salvador na semana passada. Um suposto meteorito teria caído no quintal da casa do Sr. Paulo Brito, morador do bairro de Água de Meninos, às 23h43 da chuvosa noite de 21 de fevereiro de 2013. Segundo o relato, o morador foi acordado por um forte estrondo e encontrou a rocha em um buraco com 23 centímetros de profundidade. Do interior da perfuração sairia uma densa fumaça colorida em tons de azul e rosa. A testemunha afirmou que o objeto ainda estava “quente”, a ponto de queimar suas mãos ao tocá-lo.
A rocha foi recolhida por uma equipe de um jornal local e levada ao Instituto de Geociências da UFBA. O colega Wilton de Carvalho realizou uma inspeção visual preliminar e concluiu que não se tratava de um meteorito. O objeto não apresentava crosta de fusão, característica típica de meteoritos resultante da entrada na atmosfera, e estava fortemente oxidado. Essa oxidação, no entanto, só ocorre após longa exposição ao oxigênio terrestre, o que é incompatível com os dois dias alegados de permanência no planeta.
Quando soube dessa história, no sábado, confesso que não levei muito a sério, por um motivo simples: minha câmera de monitoramento de meteoros não registrou qualquer flash ou superbólido durante toda a noite em questão. E eu moro a menos de dois quilômetros da residência do Sr. Paulo. Um evento desse tipo deveria ter produzido um clarão significativo, associado à fragmentação do meteoroide a dezenas de quilômetros de altitude. Mesmo que não ocorresse dentro do campo visual da câmera, um flash com magnitude comparável à da Lua cheia, cerca de –13, teria deixado algum registro, mesmo sob chuva.
Foto de Tânia Araújo (Agência "A Tarde")
Foto de Fernando Vivas (Agência "A Tarde")